12/01/2016

mate e pipoca (permanência)

cabelos no chão branco
poucas mãos nas maçanetas
poucos seios
e promessas gastas

ainda nascem besouros
não há mais minhocas:
a personagem do artista chora

as marcas de mofo no armário
onde vejo o rosto de jesus
as marcas de batidas na porta

o microondas quebrado
a água quente falhando
tantas saídas

silêncio concentrado no tempo
fechado
imóvel

tantos últimos
implorando primeiros
(temendo primeiros)

um túnel
longo

um túnel
durando três dias

nenhuma palavra

quantos passos?
quando passa?

Um comentário:

  1. Como um rio
    Ser capaz, como um rio
    que leva sozinho
    a canoa que se cansa,
    de servir de caminho
    para a esperança.
    E de lavar do límpido
    a mágoa da mancha,
    como o rio que leva,
    e lava.
    Crescer para entregar
    na distância calada
    um poder de canção,
    como o rio decifra
    o segredo do chão.
    Se tempo é de descer,
    reter o dom da força
    sem deixar de seguir.
    E até mesmo sumir
    para, subterrâneo,
    aprender a voltar
    e cumprir, no seu curso,
    o ofício de amar.
    Como um rio, aceitar
    essas súbitas ondas
    feitas de água impuras
    que afloram a escondida
    verdade nas funduras.
    Como um rio, que nasce
    de outros, saber seguir
    junto com outros sendo
    e noutros se prolongando
    e construir o encontro
    com as águas grandes
    do oceano sem fim.
    Mudar em movimento,
    mas sem deixar de ser
    o mesmo ser que muda.
    Como um rio.
    - Thiago de Mello, em "Mormaço na floresta", 1981.

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