30/12/2016

eu amo várias (corpo)

cada vez
danço melhor
no copo metade cheio
de amores mais que líquidos

de aço

soltem meus braços

comportamento anterior
não implica em comportamento futuro

soltem meus braços

por favor me digam
o que não posso
o que não devo

só pra eu ter o prazer
de ir lá
e fazer

vivirtual

tanta curtida
e nenhum abraço

tanto compartilhamento
e nenhum laço

23/12/2016

feliz cidade noite 2016

natal é tempo
de repensar os projetos
largados pelo meio
e ver o mendigo no meio da rua

é tempo bonito
de parar o automatismo:
o que não é e o que não será

o natal
custa
a chegar

apressamos com vícios
hinos
e falta de neve

bonito
mas nada breve

entre o natal
e o ano novo
cabem sete infinitos

22/12/2016

cara - o quê?

a noite é grande demais
para minha dor nas costas

sentei na poltrona mais suja
o lugar fedia a mofo
o lugar era quente
cantar elis era impossível
mas a esperança nos mantinha
e a risada nos sorria

rock pesado
e bebida barata
no ambiente informal
tentando apressar o natal

idoso tinha a gente
e o velho de lambreta
com gorro de papai noel
manco
mexendo na dentadura
(nenhuma rima)

o resto era fogo por dentro de fogo
dentro de corpos
dentro de roupas poucas
falas vazias
e idades mínimas

jogar sinuca
sem olhar
o jogo de sinuca

o tempo como promessa
de melhores horas
e a gente com pressa
de qualquer coisa fora

20/12/2016

sam_sara (too late)

com braços de elefante
tento flertar com a leveza

mas nenhum poema é o último
nenhuma musa é a última
não há final no meu livro

beleza triste da obsolescência programada
das conquistas
das conquistadas

(nada resolve nada)

a música bela
do poeta feio
tocando em algum lugar de los angeles

violinos
violentam
a fumaça da escuridão

19/12/2016

dia um

ela topou
não ser cobrada
nem me cobrar nada

sorrindo deito em verdes pastos
imaginando pássaros coloridos
voando livres num céu branco

assim vamos sem trancos
citando drummond
no whatsapp
com coração

13/12/2016

asas do desejo

isso tudo já estava
em algum lugar na arte

mas temos cada vez
mais tempo
para distrações

por sorte
nos estranhamos a morte
de quando em vez
mergulhando em cores
ou em rimas e breu
sem nem uma beira
da palavra eu

11/12/2016

desistência formal amorosa

não adianta
o esforço
para ver elo
no farelo

pão pão
queijo queijo
e um beijo vão se perdendo no ar

as princesas encantadas
querem ser assim tratadas
mas não assim tratar

sorriso amarelo
atrás
de sorriso amarelo
com asma

as pessoas não conseguem
nem cumprir um jantar combinado
e você ainda pensa (faminto fantasma)
naquele verbo antiquado
com trema na sala de estar:
namorar

(não pelo bem dela
mas pelo seu bem estar)

ação no mundo

silenciar
para
evitar
causar sofrimento

tudo bem que ele morou no mundo todo
fala dez idiomas
dois doutorados
e não dá a descarga no banheiro

tudo bem o que for
todos tem um lado bom:
não dá a descarga mas apaga a luz

tudo
bem

não sou
eu mesmo
a ilusão de um paradoxo sobre pés cansados?

não é o mundo todo
um lugar
sem sentido?

falemos do tempo:
será que vai dar praia?

silenciar
é infinitas vezes melhor do que espetar

mesmo que seja se encolher na concha virginiana
sem dizer a que veio
sem dizer nada
sem nem ser

06/12/2016

já é natal na líder magazine 2 (redação)

o natal tem amigo oculto
e presentes de um elfo imaginário de barba branca
inventado pela coca-cola
para crianças futuramente decepcionadas
usarem ainda mais drogas

o natal reúne a família
para falar mal da parte da família
que ainda não chegou
ou saiu mais cedo

no natal nasceu o homem filho do homem
que falava para darmos tudo aos pobres
sermos compassivos
sermos amorosos
e que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha
que um rico entrar no reino dos céus

então trocamos presentes e comemos abundantemente
animais mortos que torturamos a vida toda
em nossas casas com muros
enquanto lá fora tantos passam fome

para
celebrar
este
nascimento

amém

d(eu)s

a escuridão de não haver alguém lá fora
silenciada pela paz
de não haver ninguém aqui dentro

sair do ego (espelho)

falar
a um cego
sobre o vermelho

03/12/2016

fora temer

virginianas sem coragem
para sair ou entrar
(do que quer que seja)
parece que me atraem
ou se atraem por mim 
na razão inversa das forças opostas
forças ocultas
de pais ausentes
num país sem rumo

virginianas discretas
virginianas doentes
virginianas carentes
virginianas sem fotos recentes

virginianas
sem
ascendente

bons beijos
boas conversas
boa noite
adeus

e me traio no prato frio
(vazio vazio vazio dos ateus)
repetidas vezes
tentando ver calor
onde não há:

fora

28/11/2016

star

choro ouvindo elis
e vendo filmes infantis

caos e cais

solidão retumba
além do céu
do sol
do espaço
sideral

a vida
me chama
pra cantar

invento o mar
e o sonhador
mas o vazio

(mais)

a vida
a chama
a esquentar

saveiro pronto pra partir
para longe
para longe
para onde?

26/11/2016

adeus, fidel (atestado)

adeus, fidel
você tomou de volta seu país dominado
num barco emprestado

hoje
aqui do lado
o povo vê TV
o povo lê jornal
o povo é informado

o povo espera sentado
os corruptos abrirem mão de seus direitos
(agora legalizados)
e o milagre de se manter no poder
um presidente eleito

24/11/2016

na folha, na tela

só há teu olhar
que nem é teu

a mente range um poema
como se eu
estivesse gasto demais
para isto
mas a paz sorri ao longe
(tão perto)

de certo pingam desta mão
as letras, os fonemas

mas as luzes estão
apenas no seu olhar
de cor

porque só há
o teu coração
maior

21/11/2016

o mesmo

a novinha que passa com a cara fechada sem dar bom dia vem da velhinha simpática que dá bom dia
a novinha que passa com a cara fechada sem dar bom dia vai para a velhinha simpática que dá bom dia
a novinha que passa com a cara fechada sem dar bom dia é a velhinha simpática que dá bom dia

18/11/2016

poeminha pro garotinho em nós

somos todos garotinhos mimados nos debatendo na maca. o mundo não foi como a gente queria, o mundo é chato, feio e bobo. o mundo não vê meu esforço, meu nome, minha vontade... somos todos garotinho.

14/11/2016

espaço

(Para Lama Padma Samten)

educação e método
para sozinho focar num plano
e pouco a pouco
me insensibilizar dos outros

a curva da vida porém
sempre vem

e agora o esforço
é do fundo do lago
do fundo do poço
do fundo do lodo
do fundo da dor

achar o milagre da flor
se abrir em abraço

espaço

(Para Lama Padma Samten)

educação e método
para sozinho focar num plano
e pouco a pouco
me insensibilizar dos outros

a curva da vida porém
sempre vem

e agora o esforço
é do fundo do lago
do fundo do poço
do fundo do lodo
do fundo da dor

achar o espaço da flor
se abrir em abraço

06/11/2016

amor líquido

nos conhecemos há uma semana
ela me ama
e gozamos junto
mas na quarta-feira ficamos sem assunto

marcou de vir e não veio:
apareceu outro menos feio
no tinder
(que é difícil de rimar)

uma semana depois
(a gente sem se falar)
e ela curtiu minha foto na festa

as rugas na minha testa
porém
tendem a aumentar

04/11/2016

só no facebook (fotos de casal no tinder)

meu olhar em cacos
vagueia os últimos passos
no caos do silêncio

palavras sem bordas e ocas
passos
não me ganham
espaço

enquanto o feito não brota
perco o feitio de afetos
com fetos no coldre

no facebook só há festas
esperança otimismo e confetes

no facebook tem gente feliz

só no facebook

28/10/2016

toda

perco textos na sexta-feira sem sentido toda sexta-feira eu perco tudo e como o biscoito e visto uma calça vermelha para evitar mosquito toda sexta-feira eu piro todo sábado fico maluco todo o meu silêncio parece para nada todo meu não querer ainda quer toda fada preenche um caminho para o túmulo com lantejoulas tudo de bom está longe ou depois está tudo errado e não passa nenhum filme que preste tento aprender a nadar no mar com ressaca

22/10/2016

poemas traduzidos pro Inglês

ramonlvdias ( https://www.blogger.com/profile/05891813151601932341 ) acabou de me mandar 3 traduções pro Inglês de uns poemas meus:


unclouded hills


i see from airplanes
(for heaven's sake)

this yellow and translucent spider
fading into the still life of eve's

seven women for every man
and an immeasurable absence

i miss the maternal care
i miss the girlfriend's slippers aside of bed
i miss those times without any yearning
in peace and free of insomnia
writing imperfect poems

( poema original em http://poesia-fabio-rocha.blogspot.com.br/2013/07/montes-claros.html )

*

alaya vijnana

i hollow the dust of accomplished dreams
past and future tenses
in corroded treasure chests

side by side i engender
shapes and formulas
of three thousand years
ago when i was murderer

i hush days and nights
i hush eyes and blue seas
until the sound
become light

( poema original em http://poesia-fabio-rocha.blogspot.com.br/2014/08/alaya-vijnana.html )

*

steel shutters

so every night
the blank sheet
is moved by
the possibility
of masterpiece

the quiet moon sightsee
outside the window frame
every rhyme
every failure

( poema original em http://poesia-fabio-rocha.blogspot.com.br/2015/06/persianas-de-aco.html )


OBS.: Aqui deixo uns raros que eu mesmo já fiz em Inglês e Espanhol.

17/10/2016

ninguém por perto, fim da gripe e do deserto

a casa arrumada
jimi hendrix na guitarra
nenhuma palavra

o cenário não importa:
as portas pra algo maior
estão fechadas

a mente ocupada
com conteúdos de filme
sem perceber a tela

mesmo sabendo da tela
treinando em se manter na tela
e seu tédio

14/10/2016

sala e quarto (e partiu gikovate)

alisamos paredes brancas
antigas e murchas
gastas de partos
e morte de gatos

dentro de casas e prédios cúbicos
cubículos
retangulares e quadrados
angulares
tecendo métrica em nossos olhares
cada vez mais cartesianos

penso
penso
penso
tenso

fora das janelas
porém
há água
e vejo sempre as mesmas montanhas
em formato de águia

12/10/2016

curso de canto

ela vem
e a canção não tem passado
minha voz adormecida
rompe o sonho dos telhados

07/10/2016

pincel azul

o pássaro
planta no céu
um traço

06/10/2016

chama fogo

o fogo não sabe que se chama fogo
no fogão é azul
na fogueira tem som

às vezes dança
às vezes brilha parado

na química é combustão
na física é calor
nos corpos pode ser amor

às vezes tem fumaça
às vezes não

o fogo não tem forma ou definição
e não sabe que se chama fogo

mesmo assim queima a mão distraída
e transforma grão
em comida

04/10/2016

intercurso

não sei bem o que busco

mas encontro quando
no encontro
os olhos brilham
e o sorriso abre

pânico-hábito (romântico-religioso)

o coração como vitrola arranhada
agulha sem linha
no meio do sono da tarde

chuva reforçando a profundidade
do mesmo rio

"e agora arde sempre o mesmo frio"

uma canção brota no sonho
(antiga e nova)
e me faz saltar da cama
do peito
do poema

"sem ela mais que com jesus cristo"

01/10/2016

e o crivella liderando as pesquisas?

é tempo de premiar delatores
onde a normalidade é cada um apontar
ciscos e dores para fora de si

é tempo de nosso querido celular
destruir toda e qualquer experiência
toda e qualquer presença

o instante é de estarmos sem estarmos
estrago depois de estrago
vida após vida
perdida

uma era fazendo pose
sem sair do eu
que já doeu demasiado
até na biosfera

29/09/2016

cavaleiro de copas

estar inteiro em cada palavra

indizível renascer
agradecendo ao sofrimento

"era o melhor que cada um deles podia fazer"

abençoar todos os caminhos
que me trouxeram
exatamente onde deveria estar

todo momento
(inclusive este momento)
absolutamente perfeito

nada a fazer

as letras
se juntam
por si só

o céu acima
o deserto abaixo
a voz maior

que eu

28/09/2016

melhor

um estudo diz que meditação é melhor que tirar férias. outro diz que estudos e meditações nas férias são melhores. outro, que melhores são mulheres. eis tudo.

a pérola (ou trocando carne por soja)

colecionamos oportunidades de ouro
para um futuro que nunca chega

não se percebe um terremoto
no oceano

a soma das dores
não vale a soma dos prazeres

maçanetas à parte

fotografamos
os caminhos repetidos

filmamos os shows
que pagamos para não ver

perdemos silêncios com palavras e
o som de tráfego e dentes

helicópteros e beija-flores

em cada esquina, um mestre
um doutor
uma terapeuta
um especialista
e muitas certezas ditas

vestidas

políticos sorriem
cartas brancas
baralho cigano

os prédios apontam

o céu é uma música azul
que ninguém olha
mas vê tudo

nuvens passarão

a vida resiste

você corta videogames, carnes, excessos e sexo
você senta em silêncio sem perder tempo

e
de repente
a vida brota
apesar dos cortes

você levanta, canta
vira cambalhota:
a vida não se importa

somos cães
tentando
sem sucesso
morder uma bola amarela
numa piscina azul

e qualquer coisa que façamos
(ou não)
não altera
nossa condição

meu celular vibra no sofá
mas não olho

é bom que

falta espaço nesta postagem onde cabem caracteres infinitos para eu escrever todas as minhas dores

solução aquosa (verbo deligação)

as pessoas sem noção
são uma multidão crescente

lua sem rua
espaço sem passos
sem casa
desalento de um pássaro lento
sem asa

você empresta um gibi
volta rasgado
você empresta um livro
volta rasurado
você empresta um sorriso
volta magoado

você não empresta nada
e passa a dor
quando passa a doar

cego

você tenta um bilhão de vezes o melhor desejo
e quando consegue o milagre
acaba

era tão seu seu seu seu
mas finda
e arde

e você segue
desprezando a vida linda
atrás do milagre no beijo

tanto tempo gasto
onde deveria todo homem
trabalhar na sua fome

você segue, José
para onde?

27/09/2016

pré-sol

cinco e meia
usar o hábito a meu favor

descontrolar manhãs pelo silêncio
enredo os fios da teia cristalina
espalhadas por mil navalhas de pensamentos vãos

ouvir a sabedoria da respiração
o corpo finalmente se acomodar
no chão

tudo brilha
nada é

26/09/2016

noite cheia de fantasmas

as pessoas do século passado
ainda fazem currículos
participam de concursos literários
dizem que vestem a camisa da empresa
pensando nelas mesmas
e seu nome na história:
"PESSOA DO SÉCULO PASSADO"

as pessoas do século passado
esperam o amor chegar ouvindo roberto carlos
e têm fé
(amar é...)

as pessoas do século passado
usam a arte como desculpa para sua insônia
uma arte que não muda ninguém
porque as pessoas do século passado
desabafam, escrevem, pintam, cantam, fotografam, produzem...
mas não mudam

(igual a seus pais
e os pais deles
e os pais deles
e os pais deles
e o país deles)

25/09/2016

o celular, esta maravilha

tivemos uma fase de nos maravilhar com as mensagens de voz do whatsapp e parar de fazer ligações. mas agora, com a mente de um macaco louco, ansiosa e dispersa, esquecemos de responder, perdemos conversas pelo meio, falamos com dez pessoas ao mesmo tempo, não ouvimos tudo o que se falou... então as pessoas estão voltando a se ligar, para que as perguntas tenham respostas e seja possível um diálogo. estava pensando nisso e recebi um vídeo de uma amiga mostrando que estamos cada vez mais com problemas na cervical por ficar muito tempo olhando pra baixo, pras telas dos celulares. quando começam as dores, precisamos de exercícios para reaprender a olhar pra frente. olhar pro céu é um sonho distante.

24/09/2016

mas à noite, quando o resto da cidade dormia, ele escrevia

porque a chuva se segura nas nuvens até o momento em que não dá mais. e nada vale o peso de um filme assustador no meio de um dia de amor. ele agora podia escrever a palavra: amor. amor. amor. como uma chuva que cai naturalmente. não como uma imaginação em que se crê, um esforço a ser mantido até virar lágrima. não como o centro de uma existência autocentrada. amor como a chuva. por todos. para todos. (até mesmo pra ela.)

18/09/2016

até quando netuno?

não é possível
ser tão inábil
com minha grande bolha celeste
(meteoro de ilusão)

quanto tempo falta
entre o que sei ser sábio
e o que sinto em brumas?

quanto cansaço acumulado
de seguir o sol errado
pro mesmo lado
do abismo

já é hora
de honrar
meus arranhões

17/09/2016

dança a dois: dueto doendo em desaposta

chegou um tempo sem criança
em que mentir ter saudade
é cobrança

sorte de lugar

não tirar os cavalos de cristal do lugar
(em móveis lustrados, imóveis)
apagar as luzes ao sair dos cômodos
ouvir TV com volume baixo
culpa forte por comer comida
por sentar na mesa
por respirar

troco de lugar

durmo com o prato sujo na sala
a luz ligada na cozinha
a TV alta, a casa suja
a roupa largada no banheiro
comendo o que não alimenta
bebendo mate sem morte

surpreendentemente sem morte

ela mora longe (cantar perde pro perceber)

hoje eu descobri que um ônibus lotado
a cada estação
tem a vantagem enorme
de não poder piorar

meus cumprimentos
aos engenheiros ricos
do prefeito ladrão
(ou não)

mas o poema mesmo
era perceber que há uma certa beleza
em comer amendoim na noite de sexta
sabendo que o sábado vai chegar de qualquer forma

e que há música real com ela no mundo
que eu descubro aos poucos
e apesar de toda a moda da pressa, do meu, do eu e outras celas
vemos um ao outro

e cansar perde pro tentar

16/09/2016

cano dentre de cano dentro de plano dente de rima

planejo a vida pela janela
e ela entra pela porta

o cheiro de mofo
do meu ar condicionado
me arde a aorta

é assim mesmo
tipo ir nadar
e morrer afogado

meu plano
é não ter planos

a vida vem
nos enganos

12/09/2016

paixões em câmera lenta

minhas paixões já sabem
que não têm pra onde ir

eu ainda não

quando meu corpo não some
em silêncio e sumo de pele
e de eu e do tempo

eu ainda insisto em encontros
entre o bocejo, o ódio e o óbvio

eu ainda incesto
entre a compaixão
a depressão e o tédio

eu ainda inseto
entre a parede de sangue
a pele, o beijo e o coito

eu ainda indelével
indeletável
insistente escrevendo de mim

(sem fim)

09/09/2016

parênteses (só por hoje)

Somos curadores. Temos que mergulhar no nosso lodo, nosso vício, nossa doença. Encarar o que temos de pior para iniciar o caminho de cura (da dependência de coisas externas) e assim poder ajudar outros a se curarem também. Fora dessa energia de cura, dessa perspectiva de cura, sem saída, há o mundo, tudo igualzinho como sempre foi, doendo e se repetindo como variações sobre o mesmo problema (a dependência de coisas externas).

já nela

a sociedade busca saciedade
em pílulas, bebidas, amores, comidas, produtos, sexo...

infinitas palavras com nexo
por onde, brutos, perdemos
o infinito

08/09/2016

luto

tenho uma legião de ancestrais a pacificar
homens mansos
mulheres ferozes

algozes de meu estado de (lut)ar:
espadas ansiosas, dentes trincados, punhos cerrados
minha base sem descanso

06/09/2016

avidya (cegueira)

gosto - não gosto
gosto - não gosto
gosto - não gosto

eu - meu
eu - meu
eu - meu

os outros?
os outros dão like em minhas fotos
os outros compartilham minhas postagens

(os outros me reforçam)

minha poesia
minha dor
meus pais

control+c - control+v
control+c - control+v
control+c - control+v

seguindo minhas urgências
seguindo minhas responsividades
seguindo minhas predisposições

construindo minha segurança
construindo meus castelos
construindo minha estabilidade

(que vai ruir)

02/09/2016

Sobre priorizar um governo pros pobres sem fazer voto de pobreza

A cegueira dos coxinhas é inacreditável: você tem que ser pobre pra defender o lado dos pobres, artista tem que receber dinheiro do PT se defende as conquistas sociais que estão já sendo exterminadas...
Não enxergam a possibilidade de compaixão, de você ser privilegiado mas priorizar o governo em benefício dos menos privilegiados (sem ter que doar todo o seu dinheiro e fazer voto de pobreza), dos artistas estarem usando seu público para tentar conscientizar, ampliar os olhares (fora do discurso da Globosta que todo coxinha tanto repete, apontando Dilma e PT como o único problema do país, esquecendo que no ranking da corrupção o PT nem está em primeiro lugar).
É uma incapacidade de acreditar que alguém possa pensar no bem maior, no coletivo, fora do seu autocentramento.
O pior é que ainda se acham no direito de vir tomar satisfação com você publicamente no Facebook, entre uma viagem a Disney e outra. Domingo, missa (sem prestar muita atenção na mensagem de Jesus).
P.S.: Historicamente, em épocas de crise econômica, as pessoas tendem a embarcar em discursos de ódio muito facilmente se alguém APONTA UM CULPADO. Acreditam apressadamente e o que se segue é um desastre. Vejam Hitler, Trump etc.
P.S.2: Outro exercício interessante é notar como manter uma posição menos radical é difícil. Eu acho que Dilma fez muita besteira: promessas não cumpridas, Belo Monte, Copa, Olimpíada, alianças com partidos absurdos, repressão muito dura a manifestações etc. Só que me parece claríssimo o golpe contra a Constituição, nosso direito de votar e escolher nosso presidente, independente das besteiras que ele faz (se não forem crimes de responsabilidade fiscal). Mas vejo também as conquistas sociais em relação a analfabetismo, saúde, fome, distribuição de renda etc. Essas estão ameaçadas com o golpe, junto com direitos básicos dos trabalhadores e a lava-jato.

presente (no dia e nos dias)

por mais que tenhamos sobrado
fora da casa destruída em fogo e mágoa
(dois gatos escaldados em cacos)

por mais que eu já nem saiba
se teus olhos-sorrisos tocam estas linhas
adivinho do fundo de minha água
que estas palavras calorosas caibam

deixo de presente a certeza calma:
ainda estás presente
sempre estarás presente

e no meio do caos afiado
da nossa confusão de calor e lâminas
arranhados saibamos:
ambos amamos - ambos fomos amados

31/08/2016

cristiane bremenkamp cruz

ela escreve e arde
escreve porque arde
e prova: arte é fogo

(tipo não chorar na peça)

numa dimensão essa
além da palavra e seu uso
além dos abusos
(ave do bem assustada com líquidos, curvas, flautas e ventres sem rima)
nesta dimensão sem rumo
então
meu eu-lírico e o seu
dão as mãos

28/08/2016

crise ética?

O Budismo acha os "ismos" problemáticos. Até mesmo o do próprio Budismo. Levantar bandeiras é desenvolver cegueiras... Mas penso sinceramente que a visão da direita é mais egoísta e autocentrada enquanto a da esquerda tende a um bem maior pro coletivo, principalmente os menos favorecidos. O problema é que, na prática, hoje em dia, os conceitos de direita e esquerda estão confusos e sucumbem perante os interesses das organizações que financiam as campanhas milionárias fundamentadas em marketing. Quais os limites teóricos e práticos de nossos partidos de direita e esquerda? Basta ver as alianças que os partidos fazem para chegar ou se manter no poder, a bagunça é total. O perigo dessa falta de um sentido maior em tudo e de moralidade é começarmos a bagunçar até nossas leis e direitos adquiridos (que, em geral, protegem os que mais precisam). Mas é sempre legal olharmos pra nós mesmos também, essa crise moral está em cada um de nós, em cada pequeno ato não pensado: quando tentamos obter vantagens indevidas, furar filas, favorecer amigos e familiares, burlar leis de trânsito sem ser pego, etc.

26/08/2016

o rio de janeiro é minha kryptonita

o rio de janeiro é minha kryptonita
o rio de janeiro me exercita
a arte da solidão

o rio de janeiro tem corpo são e mente vazia
o rio de janeiro é ilusão
sem curupira
com caipirinha pra descer melhor

eu piro no rio de janeiro
com pira, tocha e olimpíada
mas sem chamego

lá fora o mundo inteiro
para voar sem pena
e aqui abaixo dessas montanhas-casas
caminham só garotas de ipanema
olhando (sós) o celular

com glúteos
sem asas

abacaxi (sem 15 minutos)

passei rápido
e não me vi

não ser

não flor

não sei mais de arrepio
concentrado
na confusão
que eu mesmo crio

e se não for?

frio ou não frio
faço ou não faca
entrega imediata
de nada inteiro

sem 15 minutos parado
nada faz sentido

crio projetos metas paixões
e acredito

dito leis
mas esqueço a poesia

tendência a debater sobre reis
com quem não ouve peões

movo a mão ainda enxugando gelo
mesmo fora do emprego
mesmo fora do não

24/08/2016

o caminho é in, não out

aparafuso letras negras
no amplo mar do agora
(branco)

nada a mudar
nem canal
nem ar
condicionado

feriado ou não-feriado
seriado ou tv normal

é hora de parar de jogar sempre atrasado
moedas em fontes externas

23/08/2016

ponte

estamos sempre fazendo obras
querendo algo concreto com concreto
estável
firme

sem notar que nada duro dura

nada além da lenda
dos ecos do silêncio
reverberando apenas
nossos próprios hábitos

21/08/2016

tinha um poema no meio do seu nome

não é a falta do sexo
é a falta da ternura

sexo se faz fácil mas não cura
(até se compra no supermercado)

é a ausência indizível
maior que a invisível mão dada:
sagrada carne construída cadeado

como evolução, ouvir teu nome
passou passará passaria
de mão apertando o peito do pássaro
a uma tristeza esparsa pelo fim de um sonho que não deveria

não passou
não passará
não passaria

não passa, não muda
mesmo que os olhos vertam rios
mesmo se os dias não fossem tão frios
mesmo que as mãos digitem todas as palavras de neruda

na prática

sonhos de cimento
constroem o vazio
deste apartamento

ausências sólidas
de planos, corpos,
sentimentos

o sábado volta arrepio
de sete em sete dias
frio depois de frio

lá fora
todos bem
obrigado

lá fora elas
e janelas
também

além das condições

as flores vencerão

as sementes sempre chegam
quando a terra não está pronta

quando há água demais
ou excesso de sol

mar muito perto
ou falta de sal

mas a noite se transmutando em música
e o silêncio do sereno adivinham:

as flores
vencerão

18/08/2016

pra não dizer que não falei do vazio

agosto lentamente se desmonta

surfo em amores líquidos
sem medo de começos ou de não começos
sem grandes escolhas

apenas atento

sinto a superação olímpica de minha timidez
e a depressão pós-pódio
(vitória? derrota? whatever)

eu já sei o caminho
eu cansei do meu mundinho escolhido
encolhido
previsível

mas não voo
não sigo sozinho
o caminho que já sei
o caminho que já sou

cabe dizer porém
que vagarosamente o espaço ganha espaço

lentamente desço dos conceitos

e as ondas grandes desaparecem num mar maior

venta

a palavra atenta
sente a enorme liberdade
da folha que a sustenta

13/08/2016

entre meu ser e o ser alheio a linha de fronteira se rompeu

sem escolas
seríamos mais sábios

assim caminho
parado

armas de destruição em massa
invisíveis
insensíveis
inexistentes

extremistas
terroristas
marxistas

vou sim
sem ismo
sem siso
sem memória

lembrando waly salomão:
- a memória é uma ilha de edição

para algo precioso

é preciso
saltar sozinho
do alto da noite

deixar para trás

minha ruiva favorita
distribui amor
num mundo que ensina medo

tudo o que o normal
nos manda fazer logo cedo
fazemos ao contrário e atrasado

- soltem nossos braços!

assim vamos juntos:
de braços separados

12/08/2016

redescobrindo eduardo marinho

a vida é muito curta
pra virarmos velhos atrasados
arrependidos
arrasados
sem sentido
sem sentidos

cabeças de fósforo incendiando nas ruas
definhando no escritório
ou esquecendo no bar

a sabedoria não tem nome próprio
não tem religião
não tem adiamento

nascemos aqui
é aqui que devemos
renascer maior

dançar profundo na dor
conforme a música
conforme o momento

mudar o mundo
começando de dentro

sexta-feira 12 (teto estrelado)

(Para Libório)

começo um poema errado
pelo fim do feriado de finados
sob amplo céu

transtornos tortos
hábitos mesmos
mesmo fel

uma lesma
agora morre na indonésia
sob uma resma de papel

termino um poema
num vivo feto
feio e certo

pequenina acomodada ao meu corpo

o euteamo
mais bonito
é o não dito

10/08/2016

incisivos de prometeu (coleção)

tarde, meu nome é assédio
farejo donzelas a perigo
me meto onde consigo
e prometo o que for preciso
pro_meter

do não ter jeito (li líquido)

é fase de moscas mortas
voando lentas
sobre refúgios tortos

nada claro
nada visceral
nenhuma palavra verdadeira

a beira
de um grau de desinteresse proporcional
ao grau de descompromisso
total

é tempo
de raso
e de pouco

é tempo
de amor só pros loucos
tipo arlequina e coringa
(não pros infinitos batmans atrás das máscaras)

rio duplicado
dos terapeutas
que não se curam

09/08/2016

tempos olímpicos

quatro anos
ou a vida toda
por água abaixo em segundos

ou a vitória consagrada em ouro
pra pendurar no pescoço:
melhor do mundo

extremos opostos
exatamente iguais
pras estrelas distantes

08/08/2016

geral

você queria mãos maiores
para proteger a pequenina semente
dos desígnios de um deus criador de mosquitos
e dos homens que não resolvem nem isso

você queria mais mãos
porque o sofrimento corrói toda direção

sonhando com dias melhores
somos hamsters correndo nas gaiolas
sem hamsters e sem gaiolas

sem tempo

precipitar

silencio a superfície
enquanto o mar ainda quer

quer a cada onda

(tudo sacrifício)

quer

quer

quer

as gaivotas acima
cruzam o céu imenso
sem deixar nenhum rastro

não as alcanço

precipício
de punhos fechados

06/08/2016

lótus

sem a base firmemente arraigada no erro
o talo não ultrapassaria a profundidade das lágrimas
para se abrir em flor

de onde tudo brota

mais simples
que nossas histórias e dores

anterior
aos nossos amores condicionados
aos nossos nomes
às nossas faces
à palavra nosso

mais duradouro que o tempo
mais amplo que o espaço

03/08/2016

exit (piedade)

esta noite eu soube que roberto piva
também não reescreve porra nenhuma
que a vida é curta demais pra reescrever poesia

eu sempre soube disso
bukowski e nietzsche também

eu direi as palavras mais poluídas esta noite

o poeta é um inconformista
malabarista de palavras
onde tudo acaba em pizza
(e trânsito lento)

lírios de ferro amplamente iluminados
faixas exclusivas para pedestres aéreos
helicópteros subterrâneos perseguindo almas líquidas

a salvação na poesia
a salvação no sagrado
a salvação no sexo
o poeta só: sol sem salvação

esta noite o cão do prédio não uivou
mas sirenes cantaram pra olimpíada
dormir a população

meu esporte é a morte que se aproxima
meu tempo é curto

pavio
pavê
navio

num mar cada vez mais
molhado de incompreensível

na solidão dos taxistas sem uber
e das prostitutas sem tinder

escrevo
logo existo

para isto fomos feitos

escrevo com a cara no sol
e a cabeça nas nuvens

a tempestade vermelha em seus cabelos
me traz tanta paz

idolatro seu perfume
de flor em botão

seus pés pequeninos
vendo comigo o jornal da globo
e minha coleção inútil de moedas velhas

seus olhos sempre maquiados
comendo frango
arroz
feijão

algo me diz que eu deveria
não sair de casa sem guarda-chuva
não soltar pipa no vento
não arriscar tanto
mas gosto de sim

(a vida é feita disso)

assim
quando ela respira mais forte
eu me perco de mim
eu me perco de tudo

e quando ela vai embora
eu
não
durmo

02/08/2016

a lua tem água

a lua tem água
e derramo do prédio mais alto
minhas histórias mal contadas

01/08/2016

Crítica ao meu novo livro "Romance de Começos"

Hoje recebi do velho amigo poeta Luiz Libório (conheçam o blog dele, vale a pena) esta crítica ao meu novo livro "Romance de começos", que está disponível gratuitamente aqui no Scribd. Leiam:

Em primeiro lugar, achei bonito algum princípio de organização, mesmo que óbvio. Como em “sou ateu mas creio no chupacabras” estar depois de uma breve discussão sobre a escravidão pós-Deus que descamba no desespero de encontrar um filósofo contemporâneo autóctone, sucedido por “Passei por gente e pensei: são humanos. Só querem ser felizes”. Quer dizer, sei lá se foi de propósito, mas eu entendi como se fosse. 
Por que esperar filósofos de humanos como eu? etc.
Se bem que esse “chupacabras” me atormentou, no sentido de parecer algo tragicomédia. Modernista, saca? Olha esse trecho de Macunaíma: 
"Cruzou os braços num desespero tão heróico que tudo se alargou no espaço para conter o silêncio daquele penar. Só um mosquitinho raquitiquinho infernizava inda mais a disgra do herói, zumbindo fininho: ‘Vim di Minas... vim di Minas...’"
Vê como a linda primeira imagem é destruída por essa comédia forçada? Seu livro me deu essa impressão. Muito.
Errar como Mario de Andrade. Nada mal, ahm?
Há construções de imagens lindas mas quebradas com esse tipo de sarcasmo:
“Se me movo, universitárias sabichonas ou estudantes da função quadrática se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro: masturbação mental e orgasmo difícil. Se me movo minimamente em direção aos seios tenros enquanto falo de borboletas azuis em versos frágeis, do ovo do tempo nasce apenas o coito, a duras penas. Coito cada vez menos mágico.”
“Função quadrática” e “masturbação mental” são termos prontos que desfazem a criatividade (em mim) dos seus termos. 
“Em direção aos seios tenros” é tão forte que me lembrou uma imagem que li quando criança e nunca esqueci, algo que dizia do cheiro de seio que desprendia de uma adolescente (Breve Romance de Sonho, Schnitzler). Coisa fina. 
Mas “sabichonas” é um negócio de um mau gosto fodido. 
Quer dizer, esses adornos mal postos aparecem sempre, como espinhos. Uma boa ideia, tipo “se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro” apodrecidas por “masturbação mental”. 
Lembrei que o Bukowski também faz essas coisas, de estragar imagens, e eu também fiquei muitas vezes incomodado com isso nele (não leio mais Bukowski; hoje o acho um Rei Lear que “ficou velho antes de ficar sábio”, um adolescente eterno). 
Em tempo: “do ovo do tempo nasce apenas o coito”. Que coisa linda! E perceba que é algo novo construído de elementos velhos (“tempo” e “ovo” são relacionados normalmente). Saca? Tô sendo chato? Pois bem.
Estou me sentindo o Mário Faustino falando porque o Jorge de Lima era o maior poeta brasileiro de todos os tempos e ao mesmo tempo era um mau poeta.
Será que somos bons poetas?
Gostei do plano de fundo “não me movo” que descamba em sentir uma paz “sem” (“sem um encontro no sábado, sem esperança futura, sem sexo há meses”), como se você estivesse para ser pedra, um Buda rochoso mesmo.
No fim da citação inicial há “excesso de ficção barata difundindo essa mitologia”. Eu ri. Você está falando do próprio livro? Queria que você tivesse mantido os casos censurados. 
“Romance de começos”: um relacionamento romântico que nunca passa do início ou um romance literário que não passa da primeira página?
Enfim: gostei? Não sei. Acho que como livro, não. Mas algumas imagens me emocionaram.
“Lustrar a alma cheia de dentes no próprio suor contente”. Bonito mesmo. Meio Breton em Nadja.
Saiba que escrevo DE CORAÇÃO.
Estou cansado de muita coisa, entre elas: dar opinião poética sem que seja DE CORAÇÃO.

29/07/2016

eu te amo mas tô no tinder (armadura de ouro)

eu te amo mas tô no tinder
você pode me ferir que a fila anda
nossa poesia não rima
mas não é você quem manda

eu te amo mas tô no tinder
marco e desmarco nosso jantar
conforme aparece alguém melhor
mas não deixo de te amar

eu te amo mas tô no tinder
a mente sempre ocupada
o facebook me força a sorrir
mas nunca solto a espada


27/07/2016

mistério

o que mora no silêncio
das mulheres de 18?

romantismo sem romance?
sonho sem meta?
esperança de fim do mundo?

a mais pura incapacidade
de andar de mãos dadas
ou apenas
nada?

25/07/2016

basta

estamos todos descalços
correndo no asfalto
atrás de alguém que se afasta

estamos todos chorando
perante a falta de controle

estamos todos parados


*OBS.: A inspiração pro poema:

Saí com o carro da garagem e tinha uma mulher correndo atrás de alguém e gritando "Pára!". Encostei o carro ao seu lado, abri o vidro notando que as lágrimas escorriam por seu rosto e perguntei "Como posso te ajudar?" Ela pediu carona. Destravei a porta, ela entrou e notei que estava descalça, com um vestido preto muito curto. Pediu pra seguir um homem. Perguntei se ele tinha roubado ela. "Não, é meu marido." Deixei ela perto dele, ela me agradeceu e seguiram pelas ruas gritando.

O nível de sofrimento e confusão que o amor romântico pode causar nas pessoas (não me excluindo) sempre me parece inacreditável.

21/07/2016

do sofrimento como combustível

pequenos prazeres
antes da foice

pequenas mortes
antes dos dias úteis

quantos anos gastos
esfregando a lâmpada mágica
esperando o gênio
para pedir mais lâmpadas
ainda mais mágicas?

quanto tempo de treva
até você acordar?

quanto tempo leva?

19/07/2016

o choro de todas as coisas prestes a morrer

frutos caem no telhado
acima de nossas rugas

a natureza apresenta suas sombras
e o sagrado faz as luzes do mundo
um pouco mais fracas

nessa época estranha
(que é sempre)
aumentamos o ímpeto nas distrações
mas elas também caem no telhado
como folhas
que não notamos mais

todas as distrações do mundo não adiantam
mais que um fruto podre
no telhado

cansados de tudo que nasce e morre
desperdiçaremos até quando a luz
nascendo e fazendo nascer?
morrendo e fazendo morrer?

verbo querer

o poeta quer ser lido
sem sucesso

o poeta quer ser comprado
com menos sucesso ainda

o poeta quer que o poema dê frutos
além dos poemas

quer opiniões, resenhas e mulheres

quer dias melhores

o poeta quer ser lindo
sem sair de si
(e já saindo)

poema já mil e um

percebo:
meu amor por jammylly
é um inutensílio

noto na mesma noite
a perfeição dos seu cílios
numa foto recente

mas a distância ainda
vence
a vontade do corpo

o escuro roto de recife
me deixa insone
no rio de janeiro

vejo filmes, escrevo palavras e seu nome
o ano inteiro
e não passa esta fome

18/07/2016

ana carolina no supermercado

ana carolina empurrando o carrinho
fazendo compras básicas
e meus olhos pequenininhos
começando a ouvir música clássica

esqueço a falta da paz mundial
imaginando a maciez de lycra
das pernas de ana carolina
naquelas calças de ginástica

a silhueta de ana carolina
é um sonho há muito esquecido
um passo perto do pássaro
o voo de um sonho bonito

ana carolina me sorriu
e o supermercado se abriu
em um céu de julho

strauss sem stress

asas sobre casas

confissão

se eu contasse
o que vai pelos subterrâneos...

além das lógicas matemáticas
além das lendas com início, meio e fim

a essência dos vulcões:
o fogo

a constância de minha mente:
teus
cabelos
vermelhos

17/07/2016

para ela, que não consegue mais ir de mãos dadas

minha deusa ruiva e quente
com pele capaz
de perfumar ainda mais
o perfume do sabonete

minha deusa branca
mais alta que o altar
que me deixa ensaboar
suas pernas longas

minha casa é teu abraço
e a surpresa do teu beijo
esquenta ainda mais
o calor do meu desejo

15/07/2016

Musa

ousar falar em amor
num tempo de mentira como regra
onde tudo rui antes de começar
onde todos riem para fotografar
é arriscar muito

arrisco

arrisco em rabiscos de músicas e poemas
em sorrisos sérios
em arabescos de palavras
para amanhecer o horizonte da mais linda franja

não somos anjos...
mas teu corpo
mas teu sorriso
mas tua beleza
mas tua voz...

nós

o que temos flui além do instante
como um espelho se vendo mais limpo
em outro espelho distante

tua voz me emudece
e enquanto o inferno aqui se repete
com as pessoas de perto passando
você segue
firme presente fino que o presente tece

você segue
você voz:
canta, dá aula, declama, ama

ama tanto
que ama em cada ato
e seria desacato
não chamá-lo de milagre

amo e mais um milagre me derrama junto:
no escuro de uma sexta-feira sem esquinas
sozinho no apartamento
escrevendo um poema
na mais completa paz

14/07/2016

poema para sharmila chambó

sharmila chambó
faz compras no supermercado
lentamente
com graça e afeto

seu andar mais alto
meu sonhar mais alto
(reino dos deuses sem desafetos)

dou mil voltas em torno de sharmila chambó
sem comprar nada
sem saber que ela é sharmila chambó
(ela nem vê)

detecto a magia do momento
atento para anéis nas mãos de sharmila chambó
de noivado ou casamento

não há
não há
não há

há cílios incríveis
olhos claros
ela mais alta que eu
escolhendo queijos
na altura do meu queixo

há quadris mais largos e perfeitos
do que o padrão estúpido das modelos muito magras
e finjo olhar umas amêndoas sem jeito

bem
perto

tomo coragem e pergunto assim:
"gosta de poesia?"
ela sorri o infinito e diz que sim
mas que não costuma ler muito

peço contato ou telefone
para mandar este poema nascente
ela me dá seu nome
eu me afasto contente

12/07/2016

diapasão

curvados e sem direção
passos por sobre o vento
mas a noite enorme

desvios, atalhos, fugidios
espantos e espantalhos

corvos, coitos, nomes
se perdendo no azul
da rosa que não te dei

um rei joga cartas sem números
eu ainda conto
eu ainda
morto

quando desistir?

não está adiantando

a rã na água morna
a rã na água quente

não está adiantando

nada

11/07/2016

just too good to be true

somos a geração
depois do amor possível

líamos os mesmos contos de fadas
mas é época de supermercados
promoção e decepção

uso o vento da paixão
para seguir em frente
(sem rumo, sem barco, em frangalhos quentes)

não há chance de não se ferir
na dança toda lâmina
(cada um olhando a sua)

não há possibilidade
que supere
a pressa

estamos todos de mãos separadas
querendo além
das mãos dadas

alianças? provisórias
alianças? provisórias
alianças? provisórias

interrompemos a epifania
para fotografar
e checar o whatsapp

08/07/2016

lenz

será que as lentas lentes
sob as sobrancelhas ágeis dela
inda cruzam por estas letras?

love is a dog from hell

sofrimento por todo lado
e fotos sorrindo

gente acabando, terminando, perdendo, conseguindo

os verbos me cansam

você foi lalaialalaiala
você foi lalaiala
lalaialalaia
(sorrio da cara do cantor triste da música triste
no bar triste em copacabana triste)

abraço o passado
exatamente como foi
é
e será

abraço todos que somos
e serenos

tivemos momentos bons
e ruins
teremos momentos bons
e ruins

ah, quando formos apenas
abraço enfim

05/07/2016

é - não é - mas é

poesia em greve de silêncio longo
pelas musas amando
de longe



02/07/2016

meditar sem meditar

aceito
visceralmente
a impermanência de tudo

observo
com equanimidade
o sofrimento de todos

entendo
sem medo
que todas as ações tem consequências

01/07/2016

sentada na cama

busco a palavra mais nua
pra te desenhar em voz
publicamente

30/06/2016

pés aquecidos

amor é tão maior que é pouco.
é muito louco:
paixão é que é bom pra fazer poema

daquela que prende mesmo
e douramos com palavras e lantejoulas
a gaiola sem ar em que nós mesmos nos colocamos
sorrindo pra depois chorar

mas a palavra meuamor não é promessa:
é alívio sem dilema
e uma forma de evitar problemas
como trocar ou esquecer nomes

a palavra meuamor não é compromisso:
é o último míssil
para fora do planeta levando a humanidade
(arca de noé)

a palavra meuamor não é estratégia:
é vontade de paz
em finais de semana
e feriados iguais

não sei o que é a palavra meuamor

veja bem meu bem
não uso roupa de marca, tênis bonito
não faço limpeza de pele, não tenho carro do ano
não ocupo um cargo hierárquico de destaque
e isso tudo não me faz a menor falta

mas por mais que eu silencie
ainda brilha para meu look de fome
o status de relacionamento no facebook
(não some)

29/06/2016

exatamente

minha vida
são pés frios
e preguiça de pegar meias

me sinto constantemente morto
por ficar tão vivo
tão quente
quando ela vem tão rente em música

uma estrela

na amplidão escura

minha alma inexistente
dançando céus de astronávia

ambos gritando pianos
no deserto escandinavo

longe absolutamente
perto

absolutamente pele

(ambos sabemos
exatamente
mas não falamos)

ela tem olhos de ternura triste
eu de cansaço depressivo
mas quando nos olhamos
sorrimos

24/06/2016

cybermuse

saímos do facebook, abrimos o skype. ela ainda tem o mesmo sorriso. eu quero amanhecer no ventre de sua branca maciez, mas calo meu desejo absurdo. ela pega o violão sempre afinado e canta o canto mais lindo já cantado. sem exagero. escolhe músicas para enfrentar a madrugada, muito mais antigas do que seus dezoito anos bem vividos. legião. adriana. zélia. elis. raul. cazuza. cássia. falo do meu calor, tímido. ela pede para eu pedir. peço. ela mostra - devagar - a felicidade. digita rápido. tem frente e verso. mostra e esconde, tudo rosa, tudo branco, se inclina e rima. dança, solta. assim, atravessamos a noite longa. depois do gozo, sobe a calcinha branca e liga caetano. ela quer um cigarro. não há. o indizível começa a tomar corpo em meus poemas nascentes. meus olhos fatigados percebem a perfeição fugaz do instante. ela boceja, filosofando sobre autoconhecimento, desconfiando que eu não estou aqui e ela não está lá... talvez com alguma culpa pelas três horas loucas que passamos. mas foi tudo virtual. pede para eu escrever sobre ela, sobre nós. sorrio. sempre queremos algo além, sempre há algo a ser construído que depois será destruído. vamos dormir junto, separados, com um carinho enorme nos olhos. escrevo o que ela queria.

23/06/2016

noite alta - tudo longe

quebro o silêncio definitivo
porque estou vivo no meio do rio
e os poemas nascendo aqui dentro
cascoalham frios

sua voz suave suo

milagres revolucionários
em quartos fechados antigos
apenas para armários
fazem algum sentido?

noite alta

tudo longe

15/06/2016

amor genuíno

quando me silencio
atento
toco de longe um tempo
muito maior do que uma vida

(muito além do tempo)

não importa muito
a teoria do eterno retorno nietzscheana
se aproximar do poder do agora:
fora do silêncio não se ama

(e já passou da hora)

10/06/2016

caos calmo

o frio me dói os dentes:
estou vivo
num ritmo diferente

passo os tempos dentro
ou ao redor da cama
sendo menos quente

cobertor de lã sobre a colcha
gorro velho na cabeça
paz dentro e fora da janela

à noite ela procurará seu poema
e meu sorriso de agora
será o sorriso dela

09/06/2016

castelos (a boca seca de sahel farzan)

vasculho a terra
meses depois
ainda com mãos em terremoto
e excesso de coração

dentro do escombro
abaixo do ombro
nada

absolutamente nada
pacificou a ilusão separada
de um peito
carne
sangue
e raiva
(minha)

as unhas pretas adivinham
a inutilidade de investigações
detalhes
inquéritos
piscinas

desculpo os políticos
os hemofílicos
os artísticos

pois chove

todas as provas
apontam o mesmo culpado:
o mesmo caminho
errado

onde ecoam agora
os gritos vãos
de nossos antepassados?

quem percebe a diferença
entre a pedra e a tartaruga?

na tempestade lá fora
onde a noite esconde estrelas
há faróis cada vez mais visíveis
longe do estéril turbilhão das ruas

você lento e curvo vai
mas
você ainda olha
pra trás
(e se perde)

escrever embalsama o passado (bolha)

pessoas crendo
em sua ilusão
de serem pessoas

pessoas tendem a buscar
em objetos externos
situações externas
deuses externos

a felicidade
sempre
horizonte

cremos no barco apontando adiante
na necessidade gigante de chegar
na rota estrategicamene planejada
e na urgência desesperada

08/06/2016

num quarto branco

percorro com mãos e boca
sem pressa
esta estátua de mármore quente
com músculos de cavalo
e ternura de seda
no seio da noite fria

encontro tamanho
de ritmos e tons
de pérola

encaixe
de músicas
em silêncio

07/06/2016

cinemático-romântico-ascensional

você sente o perfeito
quando estuda o peito
e o calor se apodera do corpo
e os olhos marejam
e a música sobe
e a tela é tudo
e a tela é ela
(a mesma ela de sempre)

06/06/2016

evolução?

uma meta autocentrada?
a onda leva

uma noite de insônia
e taquicardia

surpreende
restar apenas
a poesia

outra meta autocentrada?
a onda leva

outra noite de insônia
e taquicardia

não surpreende tanto
restar apenas
a poesia

outra meta autocentrada?
a onda leva

outra noite de insônia breve
e taquicardia leve

não surpreende nada
restar apenas
a poesia

05/06/2016

tsunami

o som da onda
contante rugido
ameaça o ouvido

engolirá os prédios?
silenciará a orla engarrafada
com a voz dos afogados?

a onda que ouço sem ver
saiu do sonho
em som e ser

01/06/2016

ave_struz

ela atira o corpo maquiado do nonagésimo andar
quando brilha uma chance mínima
de amor recíproco
na calçada de brita

ela é uma pressa bonita
manda nude
vira cambalhota
grita grita grita

mas a alma
silenciosa e alta
fica

30/05/2016

dualidade aprendida

criança eu fluía
junto com os rios que criava
com mangueiras no quintal

e se chovia
eu era a alegria simples
das calhas funcionando bem

criança é menos iludida

29/05/2016

é triste mas não surpreende

é triste mas não surpreende
se você vê as crianças dançando funk
ao som daquelas letras
com os pais olhando

é triste mas não surpreende
se você abre a revista tentando vender inutilidades
com modelos de 16 anos (ou menos)

é triste mas não surpreende
se você perceber a tendência
dos filmes eróticos

é triste mas não surpreende
se você olhar os bares lotados de gente se drogando
e as TVs passando UFC

é triste mas não surpreende
se você sentir a guerra inútil entre traficantes e policiais
ambos patrocinados pela burguesia
ambos mortos todo dia

é triste mas não surpreende
num país pra olimpíada
governado por golpistas
apoiados pelo frota
enquanto uma mulher é estuprada a cada onze minutos

é triste mas não surpreende
se você fala de cultura de estupro
desconsiderando a cultura de violência e a cultura da impunidade
sem parar para pensar no que é cultura

é isso, afinal:
punam-se os culpados
(fora de nós mesmos)
e deixemos a globo
vender jornal com a desgraça

acalento

solfejos de vocabulários
se olham
cansados mas com esperança

perfume

mãos que se dão
pelas ruas pelos carros pelos cantos
até que as bocas se reconhecem

silêncio

a avidez do beijo
me despertou sem som:
ainda pode ser bom

encanto

esculpo teu corpo
lentamente
com mãos macias

a flor fora do sonho
programado
flora apenas no agora

sem preparação
planos
metas

só o agora é sempre
(sem duração)

28/05/2016

caminha

primeiro tínhamos
eu e ela
uma garrafa fechada
protegida no vidro
e lá fora o mundo imundo
(que se exploda)

depois da quebra
passei a equilibrar copos tortos
sabendo do esforço vão
sabendo do tempo curto
e da refrescância breve e cristalina
até o chão

fotografei curtos milagres para todos verem
na rede social
e escondi hábitos ruins
(com letras e pedras de gelo)

agora
claro

agora
calmo

sem esforço rouco
nem movimento vão no copo:
70% 
de água no corpo

27/05/2016

diuturno 39 (uma garrafa em abrolhos de gaius baltar)

a chuva da noite sem deus
me inundou as manivelas

agora deito e morro
relaxo e morro
sorrio e morro

amanhã
ela

é frota

sete vidas
procurando o que
eu você

vou ser político
vou ser profeta
vou ser engenheiro
vou ser poeta

só pra vencer a meta
de rimar o óbvio:

nada tendo jeito
prefiro um governo eleito

26/05/2016

má temática

aviões de guerra
miniaturizados em andorinhas

12 elos de cegueira
orientando nossas metas mesquinhas

desumano
demasiado
noticiado

novidade:
30 homens
nenhum segredo
e nenhuma humanidade

24/05/2016

casa e peso

acordou pisando
o relógio da mãe

tic tac

os ponteiros
apontavam
nenhuma
direção

afundou nos números
que não
duraremos

23/05/2016

bandeira

ela branca erguida na distância
e na completa falta de outros meios
minhas poucas mãos tapando
os vazios de seus seios

atropelamento

buscamos

eu e meu nome
eu e meu carro
eu e meu sonho

venta e chove
do outro lado
da janela

crianças refugiadas na síria
desabamento na eslováquia
homem-bomba-judeu versus neonazista-cristã
romero jucá
mudamos de canal

buscamos autocentrados
atropelando o que for
e lá vem o dia dos namorados
produzir mais crianças
e dor

a ilusão de realidade
é uma sucessão de fatos
pequenos
enquanto buscamos Errado
uma vida
grande
(em separado)

22/05/2016

e vice-versa

todo herói tem um vilão
e não é longe ou fora:
é agora e no coração

17/05/2016

recorde

não gastar um segundo
construindo felicidade provisória

o dia inteiro
sem perder o profundo

a noite toda
olhando de fora o mundo

16/05/2016

aparta a mente

a casa que vejo se renova
toda hora
(nova e mesma)

piso frio sem cerveja
com cabelos sem cabelos
sofá perfeito pro chacra do peito

sala de meditação
alternando plenitude
e solidão

13/05/2016

para drummond

danço com as palavras
entre o amor e a luta

nem paixão nem arte marcial
mas um fracasso parcial
e infindo

bonitos rastros
aurora boreal em luto
no céu da folha branca

o poema é uma criança
e anda

escuta carla

escuta carla
minha voz nessas palavras

a vida é muito curta
para afastamentos definitivos

olha quantos encontros
desperdiçados
quantos sorrisos e aventuras

sim
ambos sabemos:
só tem maluco
(inclusive nós)

mas já passou da idade
de reatarmos os nós
dessa amizade

escuta
carla

12/05/2016

sopa de letrinhas sem teu nome

em vão me tenho buscado
nos vãos dos becos
bem alagados
de pessoas-recursos

ou na palavra
seco
um rio em curso de fortunas críticas
e conquistas temporárias

(leite no leito)

mas se me amas com calma
encaro todos os lados do auto dragão
a noite alta
a boca em chamas

(só eu e ele)

sou inamável porém
refém tarado
da condição de amado
e preocupado
com não amar ninguém

(inflamável)

é tanto não
entre o mim e o sim
que passou
quem sou
na sopa azeda do fim

11/05/2016

tipo anteontem

das raras vezes
que toquei a sombra do amor
foi distraído

sem muitos planos
sem exageros nos sentidos
sem peripécias de corpos ou palavras

algo entre o esperado e a surpresa
mas sem movimentos bruscos

tipo anteontem
quando estava na sala escrevendo um abraço
e estranhei o som de passos no quarto

10/05/2016

(a)trai e (re)pele

o calor que aumenta em tua pele frita
é o mesmo
se o inimigo te irrita
ou se a paixão te (a)trai

o mesmo

você pode entrar nesse vão
(na chuva de meteoros pra se desmolhar)
ou olhar de fora
do fogo da ilusão

você sempre pode
escolher

09/05/2016

insatisfatoriedade

entre a doença e a cura
entre a cura e a doença
investir seu tempo e crença
no mundo médio de esperança
na balança entre a conquista, o medo e o tédio

até renascer

entre a doença e a cura
entre a cura e a doença
investir seu tempo e crença
no mundo médio de esperança
na balança entre a conquista, o medo e o tédio

até renascer

a noite vai grande e alta
abraçados sem dança
eu e minha falta indo
pelos hábitos errados nos ferindo

mas a vontade de mais
(mimada demais)
perto de sair do ciclo de ais
empurra ao caminho certo

presente (só presente)

não

tempo

amor fati

amor
fácil
só se fóssil

08/05/2016

sofrida

o carma me amarra
na marra

o carma me aperta
a seta na testa
na direção errada

o carma me repete
o erro
a saída
vida após vida

04/05/2016

anticasa

minha pior parte
veio a mim sem arte
subterfúgio ou bonaparte

veio direto e reto
sem desculpa ou sonho
como um feto medonho

sem ter onde me esconder
nem em motor nem em chassi nem em aro
escrevi bem claro

a impossibilidade do não
planta um futuro
de indigestão

02/05/2016

pessoa coisa cidade torre

(inspirado por este documentário)

o homem-placa
vende espaço elevado
no cinza

eis a impossibilidade do horizonte
construída pelo homem-operário
que mora longe

o homem-coisa
está mas não está
visível
possível
admissível

mas as torres há

01/05/2016

estranhamento romântico

na quina do salto
dentro do silêncio
um puro coice do asfalto

a vida em tamanho
médio
entre o tédio, a decepção e o assédio

paro e pasto
sem par

***

mas o céu se abriu
sem falhas ou crostas
às minhas costas

um ruído na rotina
um brilho nas retinas gastas
céu a chamar
(muito mais céu que mar)

ignição

contato

passo
passo
passo
pássaros

tropeçar em trens sorrindo
na linha curva do abraço:
tu vens

30/04/2016

porque ainda quero (carma)

frio pede cama
frio pede calma
sorrio pra juliana
e me acalenta a alma

me apresento sem lama
me aposento de certo
medito e visto o pijama
pra todos os outros projetos

29/04/2016

além do utilitário automático

(inspirado por esta palestra de Marcia Baja)

já andamos
muito muito tempo
pelo lodo
reagindo

é tempo de ultrapassar
(parados)
os limites do corpo
e dos sentidos

a mente é mais ampla:
dentro dos murros
flores se abrirão

o caminho é pelo silêncio
depois de sim e não
o caminho é além das pernas
e além do chão

sem sair do lugar
sem estar no lugar

my blueberry nights (asas)

uso as palavras
pra brincar com a solidão
da palma da mão
à curva do cotovelo

a cidade cheia
atrasada
apressada
geme lá fora

nasceu um frio bom:
as prostitutas sofrerão na beira da praia
e os bêbados suarão
um pouco menos

resumo

tá tudo no lugar
e eu escrevo ainda
nesta porra aqui
há 22 anos
sem números consideráveis
(exceto de poemas)

é um bom resumo

todas as construções destronadas
me tiram o peso

atraso minha perda maior:
de mim mesmo
com versos ruins
e pessoas ruins de conversa

não é salvação
não há salvação

esse é o vício
de todos os vícios

com isso
não dá pra viver sem risco
mas pelo menos
não engano ninguém

gospel

o golpe é paitriota
enquanto a mãe tricota
recatada e do lar

28/04/2016

escarro

o tempo que gasto
tentando não perder tempo
me alisa o teclado

de certo que passo
equilibrista de palavras, urgências e auroras
tentando agarrar balões coloridos
(véspera de paralelepípedos, ausências e demoras)

hoje não fez sol sobre meus passos
mas ainda há espaço
pro amanhã

evito o mito

num corcovado
de poemas antigos
evito a política
até que a política
nos mata 
entra a rocha e a ressaca

evito a política
até que a política
homenageia a tortura
em cadeia nacional

evito a política
até o bom e velho
golpe da ditadura midiática
me restabelecer a tontura

26/04/2016

perto dos 40

(Para Bukowski)

perto dos 40
você passa a considerar estranho
uma pessoa se aproximar e virar amigo
sem motivos ocultos e interesses transversos

começa a agradecer
pelas mãos ainda não tremerem
em vez de reclamar da raridade de seios para moldarem

olha com vista cansada a idade das beldades de 20
na balada
pensando que talvez você não viva mais 20
rabanadas

estranha as perguntas que você mesmo fazia
quanto ao seu gosto musicallivros e filmes preferidos
porque já sabe que os milagres se dão fora do script
(e não duram)

a dureza da coluna dói pouco
poderia doer muito
mas há palavras

talvez seja sempre assim

tudo bem

25/04/2016

revendo o mundo

as pessoas normais
no escritório em frente
a outro escritório

cristo na parede
aliança no dedo
relógio no pulso

as pessoas normais
se distraem
o tempo todo

dormem tarde
se drogam
acordam cedo

as pessoas normais
sorriem
mas de medo

24/04/2016

não pule

o prédio é muito alto:
não pule do lúdico

nada me matou
só me fez arte
só me fez forte

agora basta seguirmos lúcidos:
sem vida e sem morte

sua lua nua

na porta da minha lua
jaz um poeta morto

a noite em escombros
abaixo dos ombros brandos

digestão difícil
da cegueira:
nosso maior vício

23/04/2016

normalidade

sinto falta da sabedoria silenciosa da floresta
nos jardins de minha avó

lá aprendi a esperar a chuva
e a esticar os galhos na direção da luz

foi no velho jardim que senti a completude
no cheiro da chuva e nas palavras verdes

por isso evitava campainhas, vizinhos e telefones
(nem havia celular)

mas o homem
criou o helicóptero
ao ver um beija-flor

o mesmo homem que hoje se deprime
empilhado em prédios sem terra
e sai para o mercado
comprar produtos empilhados em gôndolas

o homem brinca consigo mesmo
de ser deus
e perde

22/04/2016

tim maia na niemeyer

vivemos um tempo
de paredes finas

fundações baratas
sob estruturas de aparência
com prazo final estourando
por causa das olimpíadas, da fifa ou das tartarugas ninja

tempo de estruturas frágeis
visando o lucro e o autocentramento

tempo de política louca
pela bandeira, por deus, pela família, pela tortura

tempo de relações amorosas superficiais
e muitas opções

tempo de textos com erros
nos livros, nos jornais, nas revistas, na internet, na puta que os pariu
mas sem palavrões

vivemos um tempo
sem tempo
nem sentido

20/04/2016

poema sorrido pro bolsonaro

o peso contamina flores brancas
se espalha em tempos de fome e medo
gruda no coração como uma lei manca

o peso é contagioso

seres leves ao sentir o perigoso peso
tendem a quebrar as pontes mais frágeis
pra construir um monte de muros lisos

é preciso cortar o peso pelo sorriso

16/04/2016

3 f(r)ases longas e repetitivas e geminianas

produzo com muita facilidade as palavras e os atos mais bonitos
produzo com muita facilidade as palavras e os atos mais feios
treino com muita dificuldade o poder de escolha

embrionário

acordo com um poema rápido tetando me escapar
do tétano da zika da cuca da puta que o pariu

(eu cheio
deste plexo vazio)

a poesia é a tinta dourada
com que pinto minha gaiola de mágoa

algo se aproxima com rima
enquanto temo meu futuro sem metal
(minha agonia piramidal)

a poesia é meu álcool
meu vício
meu elixir de longa vida
minha saída fácil
com palavra difícil

eu medito contra o grito
eu medito contra o grito
eu medito: sou o grito

15/04/2016

vaziez

se um mosquito perceber ela, vai ser pelo gás carbônico exalado, antes de achar um melhor ponto em sua pele branca para se deliciar de sangue. se a mãe dela lembra dela no meio de uma tarde entediante, sente o antigo carinho por seu bebê e sente saudade. se uma leoa faminta sente o cheiro dela, mede sua altura e calcula a forma mais segura de atacar. se eu olho pra ela penso em deus.

14/04/2016

filme não revelado

estou de novo no carro com ela me levando pro aeroporto de lima. eu não falo espanhol tão bem. ela não fala português tão bem. sabemos que nunca mais nos veremos. olhos marejados. céu crepuscular. cansaço. silêncio pesado. no rádio, parece piada, mas começa a tocar la barca. momento eternizado sem fotos, poses, selfies ou sorrisos falsos.

descendente

na curva
depois do ápice
jaz a lápide

clara na rua cinzenta

uma flor nascendo
no asfalto do plexo

quebrando o intelecto
a certeza
a dureza
o deserto
a surdez

espalhando por todo o corpo
por todo o mundo
por todo mundo
a leveza da promessa

a surpresa
o milagre da beleza mais frágil

dentro de tantas portas
mortas fechadas
e pontes quebradas por distância e medo

mas uma flor heroica
na terra mais impura
brota da cor dos teus lábios

13/04/2016

treinamento

por baixo do pano quente da raiva
tem o descontentamento constante e morno

sob cada emoção
há algo mais permanente como base

tal qual estas letras negras e mutantes
boiando no mar da folha

12/04/2016

sério (tempos estranhos)

mudo no absurdo da musa
sopro um poema cego
pra não ser assédio

11/04/2016

possessivos

minha calma não é minha
se é minha não é calma

calma é algo maior
que essa cama vazia

auto imóvel

o problema
é que acredito ainda
que existe um eu com problemas e crenças

que existe barco
que existe uma e outra margem
e alguém pra atravessar

o problema é
(dentro dos 5 sentidos)
a solidez da falta

10/04/2016

olhos leitores

o poeta espalha dores
nas cores mais vivas
pra nascerem flores

branca 3

tenho as mãos relaxadas
de quem já teve todos os castelos tensos
destroçados em areia

e do mar incontrolável
as ondas de teus cabelos
me sugerem mar profundo

pois a vida surge curta
e a morte, inevitável
dentro do sonho

branca 2

trago as mãos longe
da alma

e a palavra
sem calma suficiente
pra cantar os afetos mais fortes

como o silêncio que precede a tempestade
como a noite em teus cabelos imprevisíveis

ondas sem mar
perante meu encanto
sem bolsos
sem moedas
mas com um sorriso de pétalas

09/04/2016

lisboa noturna (night train to lisbon)

a luz da ponte
dança na noite

adio pressas
à luz de velas
prefiro poemas num mar escuro

pois o verde é mais verde escrito
do que visto

da tentativa

quando durmo de barriga pra baixo
dói a cervical

quando durmo de lado
dói a lombar

quando durmo de barriga pra cima
tenho pesadelos
ou sonhos com ex

estou tentando
ficar acordado

08/04/2016

pesquisas científicas recentes comprovam

ratos lambidos na infância
ficam menos agressivos

ratos lambidos no pescoço
ficam menos agressivos

ratos lambidos na metáfora
ficam menos agressivos

do frasco

com des-ela
donzela
gastei meus últimos cabelos pretos

meus últimos anos
sem rugas
nem capela

e o fundo
do resto
do pouco
de minha capacidade
de amar

07/04/2016

cotidiano

a harmonia dura
apenas o silêncio da manhã

de tarde quero mulheres e iates
enquanto late o centro de meu desassosego:
o ego

à noite leio
pelo menos dois poemas
antes de dormir

bárbaro

de manhã ela fala bom dia
de noite eu digo boa noite
e às vezes trocamos

conversamos nos intervalos
e sorrimos

sem precisar de planos
apenas milagres
humanos

06/04/2016

eva e a ave

todas as minhas mãos
dentro da árvore

madeira de pássaros
em doce trinado
quente

não sei se as fibras
seguem em seus benefícios
no doce de maçã

mas o pecado
maior
é não

cidade grande

o poeta no edifício
vai ao banheiro
acende a luz
espreme o dentifrício
sai pus

05/04/2016

do vidro

a morte se aproxima pelas beiradas
o amor até agora não levou a nada
além de orgasmo e rancor

mas tudo passo naquele que me desfalece
além dessa minha tristeza enorme
além do eu, do tempo e do espaço

04/04/2016

passo a passo?

sou um golpe
antes de tudo
(fraco?)

já ataco mudo
meus ecos
mesmo calado

mudo pouco
peneiro progressos
e não me basto

pasto rouco
no caminho que sei
e sei que passo

31/03/2016

branca

este é um poema
sobre a esperança
que sufocamos com o silêncio

este é um poema
sobre o medo
que trancamos nos armários do tempo

este é um poema não dito
escondido
direto ao teu ouvido
pensando em teu sorriso

29/03/2016

samsara

você sabe o caminho
mas os passos
vão sozinhos
pro outro lado

25/03/2016

res(pirar)

quem cria
a sua
ansiedade?

24/03/2016

caminho sem mim

entre a probabilidade
do crepúsculo
e da tempestade
não me busco

a nesga do sol
é um retângulo de ouro

o vento paralisa

silêncio
entre as palavras
da canção

a máquina do mundo

um instante rosa maior
rosa deserto

comunhão
além da prosa
e do verso

23/03/2016

revendo beleza americana

sutilmente
o outono relampeja deslimites

por mas que haja paredes
nelas
há janelas

e o vento leva
leva a união de tudo
além dos cômodos
e dos incômodos da solidão

acumulamos faltas
em vontades
de coisas
ou de sermos únicos para alguém

então compramos
cães e gatos
ou explodimos aeroportos

para não ver além

22/03/2016

dolores

a palavra contamina
o silêncio, a rima, o ato

teu tato

a palavra contamina o fato
mas arrisco uns riscos
no papel acima

teu nome

a palavra mata
a palavra anima
pela palavra sonho futuros atos
de prazer passado pra não morrer hiato
pra não fechar em luto

não lembro mais o que pedi
com teu cílio no meu dedo
não lembro mais o que perdi (teu cheiro)
mas devo ter pedido errado
pois agora é esse bando com medo
numa dança entre o desconforto e o desapego
tentando martelar solidez na água
afundando em nadar além da mágoa

mas o pior mesmo é quando tento
não fazer um poema romântico

plural

sem técnicas ou metas
aumentam as
chances

21/03/2016

lenda linguagem

quantos passos
entre o céu
e o pássaro?

tentando mensurar
de dentro de nós
os nós infindos

desatar
é verbo além

20/03/2016

progressivamente

a música da vitória
sobre si mesmo
é o silêncio

além do tempo

equinócio de paz
onde enterro meus planos

nasce uma árvore lilás
sem enganos

15/03/2016

melodys celestines

deixar-lhes a casa sempre
com a porta de entrada e de saída abertas

tal qual uma meditação
com pensamentos entrando e saindo
sem lhes servir o chá do apego

13/03/2016

o tempo todo

a grande perfeição
está parada
no céu de olhos sãos

silenciosa e imensa
não toca a vida tensa
nem em canção

mas se pudesse ser música
seria a voz dela
ou a meditação 
de massenet

voo?

o pássaro pousa
seu olhar feminino
na ave futuro

duro

ela tem pernas longas
eu curto
duro um dia, dois
estranho o terceiro
nos entenderíamos no quarto

e passam

as pessoas passam
a vida toda sem ter
tempo

10/03/2016

do mesmo vermelho

do mesmo fogo
a paixão que queima alguém bem específico
e a compaixão que aquece a todos, sem exceção nem preferência

08/03/2016

revenant (missão)

enquanto reclamamos autocentrados
com a barriga cheia e o celular na mão
esquecemos as infinitas vidas
que não nos deixaram aqui
em vão

07/03/2016

pérola

beijo a palavra múltipla
na leveza da tarde
plena de beleza

a paz como certeza
no meio do rosto
embaixo do nariz

soneto do sono maior

estou de saco cheio
de ser feliz por essas beiras
essas frestas entre telas
essas festas entre elas

eu cantando
sem o arrepio
do pescoço dela
ao alcance do tato

eu imaginando
a mensagem no silêncio
sem senti-la com meus dedos

é muito tarde é muito cedo
é muito tarde é muito cedo
é muito tarde é muito cedo

06/03/2016

a fragilidade da salvação

ela é como uma bola
que não se pode tocar

o vento no verão
a destruir sua casa

a cura
que pode viciar

a perfeita medida
pra se perder sem mapa

remédio pro tédio:
doce envenenar

05/03/2016

meditação

restaura a dor do coração
cada construção derrubada

lá fora o mato alto
e o silêncio da noite
aqui dentro

o vento desinventa operários
todas as máscaras
todas as certezas
mais fracas que o vento

(lars von trier não é ficção)

a opção é não perder tempo
com murros, muros e meus
a opção não tem seguro
mas tem direção

04/03/2016

aceitação

em noites quase normais
meu romantismo de super-homem
eu deixo voar em paz
ouvindo suas velhas músicas
instrumentais

03/03/2016

retomada da flor

queimar navios
não pra curtir na ilha
mas pra ajudar na costa

meu tempo é pressa
e seja onde flor
o ponteiro das horas
me arremessa
meu amor

água mole

olho o papel branco e rio
porque (frio) olho seco
como se não houvesse mais pra onde olhar
e esse olhar corresse rio abaixo
sem pensar nas pedras, até o mar

02/03/2016

nunca sobra nada

perto da meia-noite
vendo o final do último tango em paris

reconheço estarmos todos perdidos
nesta merda de drama

e chego a preferir mentiras rápidas da puta
do que respostas demoradas da santa

lembro de minhas próprias mãos quase esganando um pescoço
brigas na porta da casa
malas atiradas no corredor
uma maldita novela mexicana

lembro do choro do lado de fora
da porta trancada
e de como eu deveria ter aberto o peito
pra pantera

lembro de outro grande encontro
de um beijo que era tango
e de tudo jogado no lixo
por raiva, medo e hábito

eu já estive em tantos lugares
em tantos papéis
que consigo agora
não me mover nem falar por horas

(talvez apenas isso importe)

tudo requer tempo
mas tenho pressa
e percebo que a direção de toda pressa
é a morte

todo nome é um tiro
e não há quem não seja maluco

o tempo é o caminho
da bela vista
à farpa no olho

o sonho realizado
jorra sangue encolhido
no canto da varanda
depois de cuspir escondido o chiclete

tenho dentes demais
pras palavras certas