30/10/2015

this is our last dance

súbito
tantas
estradas

e o sorriso sutil
de conseguir pela primeira vez
apenas ir

sol na cara
uma da tarde
tanta gente esperando ônibus

ruas onde nunca pisei

as pedras das escadas gastas da glória
onde antes o mar chegava
me deglutem a glote

destravo tropeços em praças
sem peso no peito
como bolo de cenoura no meio do cinza

ruas onde o eu
se desfez na luz dos arcos

sem nem saber como voltar pra casa
gago em gengibre e sem fazer ginástica
gargarejo a vida súbita
de olhos arregalados

óbvio ético

não é de brasília
que vai nascer a mudança

é do seu sorriso
seu agir correto
sua generosidade
sua família...

da sua casa entranhada no coração do mundo

semear

o sono dos justos
entra pela janela aberta
voando do mar sem água

esta brisa não vem
pela certeza da colheita
pela esperteza das palavras
nem por vitórias conquistadas

o sopro que balança leve as cortinas
e leva os olhos pra dentro
vem do que se semeia pra fora de si

apenas para quem olha além
o barco do tempo sorri
alisa os olhos fechados reféns
e se aconchega no peito
macio
como uma pluma
como uma estrela
como uma rosa

29/10/2015

foto nova

vida tão ampla
tão perto
tão linda
tão bem-vinda

voz de cantora
e mãos bailarinas
capazes de explodir relógios
na alegria de viver em paz

mãos
dizendo mais que palavras
e corações

mãos
dançando no mesmo ritmo

(sem esperar
sem adiar:
na calma)

aos dezessete saiu de casa
certa
de não adiar o que era na alma:
poeta

não fiz seu mapa astral
nem qualquer ladainha
mas compramos utensílios de cozinha

não foi sonho
eu limpando teu batom
no meio do horário comercial
no meio da lapa
num dia de sol

e a língua
ah, a língua
que se nos tocamos
ultrapassa a linguagem
e o silêncio

28/10/2015

o celestar tá livre

rio profundamente
deste sorriso meu
que não cansa

hino de ninar
pros que não dormem
entre a dor antiga e a flor nova

motivo

andei pela praia
e o vento era maior

quis chorar
mas não consegui

andei todo meu peso
contra o vento
até acabar a areia

tentei sorrir
mas desisti

o vento enorme
andei até
querer ser mar

andei sem parar
até todo o peso desmanchar
em letra

limites e responsividades

olho o espaço até o futuro morto
lembro de respirar
rio do drama
sem porto

a lama, o lodo, a água

invisto em boiar
sem me agarrar a nada
(nem nadar)

a água, o lodo, a lama

falsos refúgios repetitivos e surpreendentes

perspectivas particulares
quentinhas, bonitas, felizes com condições e confiança de que façam o que quero
para guardar em casa, mumificadas, até que amor-te
de amar-te falsamente vira fato:
vou embora

vou embora pipocando nos olhos sem brilho
vou embora deitando lentamente nos pequeno gestos
vou embora ameaçando a geladeira
vou embora que tanto tememos e esperamos e trememos

surpreendente até ser palavra:
vou
embora

o amor verdadeiro
olhando calado
do lado de fora

25/10/2015

do que acredito do horóscopo

apenas
na vingança
das virginianas

23/10/2015

do amor (romântico) ou os ecos de meus cacos são tantos que quase me deixam gago

respiração curta
dor de barriga
dor na barriga
estômago maluco
frio mais frio
frio frio demais
sono por não dormir
não dormir pela falta de sono
pela falta de paz

mas você
você faz o quê?

ruminando planos passados
planejando futuros melhores
perde o presente

procura correndo
o próximo
veneno
pra te salvar
do anterior

(sentindo ereto
que agora vai dar
certo)

22/10/2015

lutando pra relaxar

meu apego é à prática
para que chegue
a não ter apego na prática

o amor é um cansaço

eu semeio vento
porque ela é tempestade

ela escreve em prosa
a poesia em que me invento

algumas noites
nossos cansaços se enlaçam
no tempo e no sempre
antes mesmo de ser

para nos proteger
mesmo que precariamente
para nos proteger
mesmo que lindamente

(do frio indizível
dos pactos rompidos
dos besouros mortos)

20/10/2015

e sol

o poeta é o espaço
entre o incisivo e o sideral
que te morde dinamite

that's all

18/10/2015

em silêncio

a abertura solar do plexo
ocasionada por dores rápidas e amores ligeiros
pode ser a chuva
a ampliar profundo o horizonte
e irrigar de luz o mundo

16/10/2015

sem melhor nem pior

já fui traído
invejado
oprimido
abandonado
e todas as variantes autocentradas

tomei comprimido
virei armado
corri prum local protegido
trinquei nos dentes cadeado

hoje
solto

barca no horizonte

tudo fora
um quadro que pintamos com o olhar

tinta de lágrimas
retinas nossas, tuas, vossas
filhas de um azul maior

garrafa de água salgada
no mar
fechada ainda

tons sobre tons
sons dobre sons de ondas
que não percebem ser oceano

aflitas
olhando a direção errada
agitadas
olhando chegada após chegada

sem ver profundo
que somos o mundo
o olho
o olhar
a tinta
o pensar
a cor
a luz
e o pintor

11/10/2015

um suicídio a cada 40 segundos no mundo da monsanto e do eduardo cunha com contas na suíça

deus obrigado por este prato
com animais torturados
que comemos com agrotóxicos
olhando pro outo lado

deus amado
protege nossos muros
nossos trabalhos que destroem o mundo
e o descanso nos feriados

deus sagrado que nos deu
o livre arbítrio
seguido do dilúvio
e um arco-íris bonito
já é tempo
de fazer(mos) sentido?

06/10/2015

yin: yang

vacuidade - o feminino
luminosidade - o masculino

forma é vazio
vazio é forma

dois peixes
nadam em círculo:

nada além deles
(o infinito)

04/10/2015

desistir: vitória

a mulher que perdi no mato
calo nos silêncios de ludovico

eram muitas
a mulher que perdi no mato
(admito)

já zumbia noite
árvores altas
e ela correndo pela estrada
sem calçado
sem calçada
por meu coração apertado

hoje
meu coração exagerado
volta ao mesmo lugar
ouve a mesma música
olha o mesmo rio
e não corre
não morre
nem conta

cala
e espera a sabedoria chegar
com calma e arte

o frio prevê estrelas
breve
muito breve
no céu
meu coração sem casa
brilhará por toda parte

01/10/2015

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repito, espalho, compartilho, divulgo
todo pensamento, imagem, vídeo, quadro, palestra
onde ache que brilha um pingo de sabedoria, profundidade, alento
não como um guia, um sábio, um líder, um mestre, um poeta
mas como outro no escuro - desatento