25/12/2015

o novo e antigo futuro do amor

tem gente demais
no tinder
no colégio
no facebook
no trabalho
na boate
no omegle
no metrô
na puta que pariu
para ter paz numa relação

gente
não

eu
não
confiável

a novinha trai
a velhinha não atrai

converso com quinze
ela com dezesseis
nos celulares com senha
nenhum de cada vez

então
brota
a paz:

a prostituta
(a prostituta que não consegue trabalhar quando se apaixona)
(a prostituta sem jogos)
(a prostituta que marca e vem)

desligamos os celulares

eu não a engano
nem ela a mim

somos transparentes
totalmente sinceros

nos tocamos
ganhamos o que queremos
nos despedimos

sem a menor possibilidade de
obrigações
construções
decepções
complicações

eis o futuro das relações

23/12/2015

já é natal na líder magazine

rotina ou não rotina tanto faz:
abrir agora essa cortina
e ver de fora dos natais

mais um ano, mais um mês, mais uma lua
achamos que passou
mas o instante continua

não perder nenhuma chance
de estender a mão

contabilizar perdas e ganhos individuais
baseados num calendário menos preciso que o maia
não me parece uma boa praia

leoas na áfrica também acham
que nascem, crescem, sofrem e morrem
mas nós podemos mais

18/12/2015

telegrama de dentro do amor romântico

eu danço feito louco
com a paixão adolescente
abissal, quente e fugaz
(fugaz fugaz fugaz fugaz)
tentando não (me) queimar demais

e danço mais lento
com os olhos fundos irrecuperáveis
de mulheres traumatizadas
ao se perceberem traídas
ou irmãs ou amigas
de seus parceiros há muito perdidos

eu tendo a não aprender os passos:
no amor não tem jeito de não sofrer
no mundo não tem jeito da paz ser sólida

e danço no manto do arrepio
assim, exatamente assim, como for
no meio do caos, do prazer, da dor
mas insisto e danço enfim
(por enquanto)

17/12/2015

improvável quase impossível (a prova)

o filme era descritível:
bem dirigido, atores bons, maravilhoso

o beijo, porém
foi meu primeiro beijo
inominável

(foi meu primeiro beijo)

o beijo o cheiro o corpo a língua a pele o lábio

nenhum verbo

moreia na caverna com olhos de fogo

sístole e diástole do universo

mãos-centopeias em disputa

mundo líquido

o sagrado espreitando a beira do milagre mais profano

tempos de degenerescência

estamos na beira do tempo

de pedir paz
porque não temos mais paz
com um celular na mão

de pedir harmonia
com o planeta em via
da destruição total

de pedir união
incapazes que estamos
de manter uma simples relação

12/12/2015

também escrevo porque desisti de ter jeito

as crianças todas felizes na apresentação de balé
e tudo que vejo é a menininha chorando
com a mão na boca
a mãe sem saber se ampara ou aplaude
a professora colocando outras crianças na frente

tudo o que também vejo é o beco,
manuel bandeira,
sem glória

e a certeza do natal
se aproximando sem chance de escapatória
eu sorrindo com a lombar doendo
o futuro, o instante e a memória

10/12/2015

filhos dos filhos dos filhos

as revistas ainda dizem
qual é o bikini da moda

crianças nascem
para beber silicone
enquanto litros passam fome

o plástico no mar
peixes radioativos comem

mas vamos lá
vamos no mesmo caminho
na mesma direção

não por certezas
mas por distração

01/12/2015

fogos

quantos beijos
até a certeza carnal
de que não está no beijo
a paz abissal

o fim e os meios
no início
de todo precipício
igual

artifício artificial
fogo de palha
sísifo sem meta
estátua de sal

Imagem: foto de Fabio Rocha

mais benefício?

quando minha poesia grita
mais gente a escuta
mais corpos se agitam
mais arte e mais urros
(murros em muros)

mas o sussurro
é mais precioso

29/11/2015

alice

o mundo cria degenerados
que me acordam

eu outro
transmuto a dor em algo

maior
imortal

seus traços em breve serão pó
os meus não

os
meus
não

num mundo que prioriza a visão
vejo a janela de birdman

meu voo
é ela

27/11/2015

escorregadio (sem eu sem rumo sem ilha sem barco sem navio)

"De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa morna e ingênua que vai ficando no caminho" - Cazuza

eu rezo à raiva que se esgota
l-e-n-t-a-m-e-n-t-e
em minha azia
que a semana passe
o mês passe
o ano passe
o livro acabe

mas a cada dia
renasce
o tempo
minhas infinitas histórias
e a primazia de palavras e poemas
(que não reconheço)

desfaço o laço do começo
com a lembrança do pior fim

vejo no oito deitado
apenas um infinito:
dor enfim

respiro morcegos
querendo ser cego
e não ter visto
o cisco em mim

há uma grande distância
entra a onda
o oceano
e a ânsia de vômito

há a lama
a vale do rio doce matando peixes
e, do outro lado, paris bombardeando crianças...

há tudo isso em cada um de nós:
descontrole
imprevisibilidade
o infinito que dói

assim percorro com teclados
a palavra
insolúvel

tudo o que eu já sabia
mas não consigo sentir:
desistir do mundo
do oceano
de suas rimas
espumas
mentiras

sigo herói quase sem eu
da última construção destruída

entre a onda e o mar
querendo ainda acreditar
em contos de fadas
e canções de ninar

(mas não conseguindo)

24/11/2015

walking dead: forever young

num mundo cheio de filhos da puta
os poucos babacas que não são filhos da puta
tendem a se tornar

é como um apocalipse zumbi
se espalhando rápido
sem ninguém entender
qual foi a porra da causa

23/11/2015

dupla derrota

num mundo
com muitos mais estátuas
(e histórias)
de homens

mulheres inglórias
repetem o comportamento másculo
fadado ao fracasso

mulheres que não se destacam
pela compaixão, carinho,
cuidado, nutrição...

competimos

num mundo
com muitos mais estátuas
(e histórias)
de homens
a cavalo
segurando espadas

(leitura de Sabrina Corrêa Silva)

19/11/2015

lenz

é questão de mágica
de energia
calor e fogo

é transbordar
em vez de contar gotas
além da água e do lodo

descontrole total
nenhuma racionalização
nada a se adaptar

tudo sendo pura verdade
apenas a certeza
apenas o sorriso
apenas a palavra
que arde

incompreensibil_idade

ela tinha que ir
pro mar vazio

eu era humano
e aquilo muito frio

pensei que ela também
mas quando olhei era um golfinho

16/11/2015

VALE: a pena

a vale do rio doce privatizada
transformou o rio doce
numa privada

15/11/2015

manda mais, maharaja

coisas do mundo ainda me afetam
me sangram, me tentam, me desestimulam
mas ainda estou no caminho

ajo ainda de forma errada
imprecisa, sem calma, autocentrada
mas ainda estou no caminho

e quando minha casa se enche
de pessoas em silêncio
meus olhos se enchem de lágrimas
de agradecimento

porque
apesar de tudo
ainda estou no caminho

13/11/2015

o terror em paris que há em cada um de nós

há os que temem a morte
há os que temem o amor
e há os que não se importam
e apenas explodem
ambos

há os que apenas explodem
todos
os que estiverem atrapalhando
seu plano, sua meta, seu caminho, seu deus

e por não terem brilho próprio
tentam tirar a luz
de uma cidade inteira

do não ter jeito

qual a capacidade de confiança
de quem mente sempre?
qual a sua paz?

mas o pior efeito do mentiroso revelado
é fazer o inocente
não confiar automaticamente

(uma vida mais íngreme
logo perto do natal)

o melhor efeito do mentiroso descoberto
é fazer o desligado afinal
olhar pros três lados da rua
antes de ser atravessado
pela lua

atu_ar líquido

o eu central
que nos faz respirar
nos asfixia

nadamos perdidos no vão
entre a prática e a teoria

10/11/2015

ponte aérea (ou um mundo superlotado)

vivemos numa época
em que nossa pressa
e nossa falta de ética
não permitem que vivamos
nossos próprios sonhos

nem no cinema.

nem no cinema!

eduardo galeano bem diz:
"nos perdemos de tanto buscar"
e buscando nem olhamos
o que deixamos de legado

sem projetos retos de vida
corremos atrás do próprio rabo
(tudo o que vemos)
deixando a lealdade pros cães
só por termos opções

pessoas descartáveis
(consumidores fragmentados)
comendo fragmentos de plástico
afogados na carne dos peixes

não conseguimos ficar meia hora
sem checar o celular apagado
não conseguimos ficar três anos
sem trocar o namorado

e todos olhamos consternados
alguns casais de velhinhos lentos e sãos
dançando um pelo outro - juntinhos
nas bodas que nunca mais celebrarão

07/11/2015

geração 90+ (xvideos poser, cada um por si, mundo cão)

a liberdade ilusória
do egoísmo
me rima a vida
com pessimismo

depois

não sabia
que seria preciso
tanta força
pra ver poesia no mundo

os imbecis multiplicam-se
não entendem as pérolas
e usam-nas para embelezar a bosta

vemos crescer no ar
uma geração inteira sem respostas
mas com muitas telas
sem saber o que perguntar

03/11/2015

meu

a palavra meuamor
deveria ser mais usada
mais estudada
mais lembrada

a palavra meuamor
desopila o plexo
abre sorrisos
sem deixar de mostrar toda vez
que é algo dentro de cada um

porque os amores passam
mas o meuamor
fica

(Slide final da palestra "Por que não vai dar certo?", do Gustavo Gitti no Festival Path.
O texto toma como base a abordagem do professor Alan Wallace | Foto de Carol Brunharo)

02/11/2015

uma dança lenta

de onde menos se espera
o passo não ensaiado
a canção maior das palavras

e você sorri
a subir escadas tão leve
de volta pro céu daqueles olhos

01/11/2015

sangue e pus

quanto maior
a decepção cardíaca
mais direciono
a fossa ilíaca
na direção da luz

30/10/2015

this is our last dance

súbito
tantas
estradas

e o sorriso sutil
de conseguir pela primeira vez
apenas ir

sol na cara
uma da tarde
tanta gente esperando ônibus

ruas onde nunca pisei

as pedras das escadas gastas da glória
onde antes o mar chegava
me deglutem a glote

destravo tropeços em praças
sem peso no peito
como bolo de cenoura no meio do cinza

ruas onde o eu
se desfez na luz dos arcos

sem nem saber como voltar pra casa
gago em gengibre e sem fazer ginástica
gargarejo a vida súbita
de olhos arregalados

óbvio ético

não é de brasília
que vai nascer a mudança

é do seu sorriso
seu agir correto
sua generosidade
sua família...

da sua casa entranhada no coração do mundo

semear

o sono dos justos
entra pela janela aberta
voando do mar sem água

esta brisa não vem
pela certeza da colheita
pela esperteza das palavras
nem por vitórias conquistadas

o sopro que balança leve as cortinas
e leva os olhos pra dentro
vem do que se semeia pra fora de si

apenas para quem olha além
o barco do tempo sorri
alisa os olhos fechados reféns
e se aconchega no peito
macio
como uma pluma
como uma estrela
como uma rosa

29/10/2015

foto nova

vida tão ampla
tão perto
tão linda
tão bem-vinda

voz de cantora
e mãos bailarinas
capazes de explodir relógios
na alegria de viver em paz

mãos
dizendo mais que palavras
e corações

mãos
dançando no mesmo ritmo

(sem esperar
sem adiar:
na calma)

aos dezessete saiu de casa
certa
de não adiar o que era na alma:
poeta

não fiz seu mapa astral
nem qualquer ladainha
mas compramos utensílios de cozinha

não foi sonho
eu limpando teu batom
no meio do horário comercial
no meio da lapa
num dia de sol

e a língua
ah, a língua
que se nos tocamos
ultrapassa a linguagem
e o silêncio

28/10/2015

o celestar tá livre

rio profundamente
deste sorriso meu
que não cansa

hino de ninar
pros que não dormem
entre a dor antiga e a flor nova

motivo

andei pela praia
e o vento era maior

quis chorar
mas não consegui

andei todo meu peso
contra o vento
até acabar a areia

tentei sorrir
mas desisti

o vento enorme
andei até
querer ser mar

andei sem parar
até todo o peso desmanchar
em letra

limites e responsividades

olho o espaço até o futuro morto
lembro de respirar
rio do drama
sem porto

a lama, o lodo, a água

invisto em boiar
sem me agarrar a nada
(nem nadar)

a água, o lodo, a lama

falsos refúgios repetitivos e surpreendentes

perspectivas particulares
quentinhas, bonitas, felizes com condições e confiança de que façam o que quero
para guardar em casa, mumificadas, até que amor-te
de amar-te falsamente vira fato:
vou embora

vou embora pipocando nos olhos sem brilho
vou embora deitando lentamente nos pequeno gestos
vou embora ameaçando a geladeira
vou embora que tanto tememos e esperamos e trememos

surpreendente até ser palavra:
vou
embora

o amor verdadeiro
olhando calado
do lado de fora

25/10/2015

do que acredito do horóscopo

apenas
na vingança
das virginianas

23/10/2015

do amor (romântico) ou os ecos de meus cacos são tantos que quase me deixam gago

respiração curta
dor de barriga
dor na barriga
estômago maluco
frio mais frio
frio frio demais
sono por não dormir
não dormir pela falta de sono
pela falta de paz

mas você
você faz o quê?

ruminando planos passados
planejando futuros melhores
perde o presente

procura correndo
o próximo
veneno
pra te salvar
do anterior

(sentindo ereto
que agora vai dar
certo)

22/10/2015

lutando pra relaxar

meu apego é à prática
para que chegue
a não ter apego na prática

o amor é um cansaço

eu semeio vento
porque ela é tempestade

ela escreve em prosa
a poesia em que me invento

algumas noites
nossos cansaços se enlaçam
no tempo e no sempre
antes mesmo de ser

para nos proteger
mesmo que precariamente
para nos proteger
mesmo que lindamente

(do frio indizível
dos pactos rompidos
dos besouros mortos)

20/10/2015

e sol

o poeta é o espaço
entre o incisivo e o sideral
que te morde dinamite

that's all

18/10/2015

em silêncio

a abertura solar do plexo
ocasionada por dores rápidas e amores ligeiros
pode ser a chuva
a ampliar profundo o horizonte
e irrigar de luz o mundo

16/10/2015

sem melhor nem pior

já fui traído
invejado
oprimido
abandonado
e todas as variantes autocentradas

tomei comprimido
virei armado
corri prum local protegido
trinquei nos dentes cadeado

hoje
solto

barca no horizonte

tudo fora
um quadro que pintamos com o olhar

tinta de lágrimas
retinas nossas, tuas, vossas
filhas de um azul maior

garrafa de água salgada
no mar
fechada ainda

tons sobre tons
sons dobre sons de ondas
que não percebem ser oceano

aflitas
olhando a direção errada
agitadas
olhando chegada após chegada

sem ver profundo
que somos o mundo
o olho
o olhar
a tinta
o pensar
a cor
a luz
e o pintor

11/10/2015

um suicídio a cada 40 segundos no mundo da monsanto e do eduardo cunha com contas na suíça

deus obrigado por este prato
com animais torturados
que comemos com agrotóxicos
olhando pro outo lado

deus amado
protege nossos muros
nossos trabalhos que destroem o mundo
e o descanso nos feriados

deus sagrado que nos deu
o livre arbítrio
seguido do dilúvio
e um arco-íris bonito
já é tempo
de fazer(mos) sentido?

06/10/2015

yin: yang

vacuidade - o feminino
luminosidade - o masculino

forma é vazio
vazio é forma

dois peixes
nadam em círculo:

nada além deles
(o infinito)

04/10/2015

desistir: vitória

a mulher que perdi no mato
calo nos silêncios de ludovico

eram muitas
a mulher que perdi no mato
(admito)

já zumbia noite
árvores altas
e ela correndo pela estrada
sem calçado
sem calçada
por meu coração apertado

hoje
meu coração exagerado
volta ao mesmo lugar
ouve a mesma música
olha o mesmo rio
e não corre
não morre
nem conta

cala
e espera a sabedoria chegar
com calma e arte

o frio prevê estrelas
breve
muito breve
no céu
meu coração sem casa
brilhará por toda parte

01/10/2015

compartilhe

repito, espalho, compartilho, divulgo
todo pensamento, imagem, vídeo, quadro, palestra
onde ache que brilha um pingo de sabedoria, profundidade, alento
não como um guia, um sábio, um líder, um mestre, um poeta
mas como outro no escuro - desatento

28/09/2015

blond

i have no explanations for my russian crazyness
i just have a happiness without any reason
and she thinks my idiotic singing is beautiful

she is far far far away
and we don't have the same language
and we don't have even a kiss

and she is going to read about psychology
and i am going to read about meditation
and we laugh
and our laugher is strangely authentic

because still there is something
and we both know

pré-ocupar

esturjões povoam noites acéfalas
dentro do som dos carros que passam
e nunca chegam

volto ao lugar vazio

mergulho no pânico
até que passe por cansaço
ou por palavra

lá fora
a maldita impressão
de que chegam
(e estou fora)

os celulares foram feitos
para ficarmos malucos

os celulares o tempo todo
perto do cérebro

o tempo todo os celulares
ou enfadonhos
ou desespero

os celulares nos tiram
dos lugares de paz
para os mares de males

os celulares e os esturjões

25/09/2015

vão

o estilingue de minha língua estala
se os olhos percebem o perfume que exala
ali, logo ali, do outro lado do oceano

tinta no papel
teclas na tela

malabarismos
que não retratam
ela

pro teu bem

a risada de um louco estrela
traz a lembrança do espaço claro
a noite toda luz
onde pertencemos à paz
numa miríade de cores sem intermediários

não há anúncios pra esse lugar
e a cada 40 segundos
revive outro suicídio o mundo

mas há os bares
onde mudos reforçam o calar

os bares
sem criação

os bares
para aguentar

e o espaço pouco
que agora te desconecta
olhando ansioso celulares e telas e infinitas merdas
barulhentas e brilhantes
não te contentam

nem deveriam te contentar

24/09/2015

dança

o poeta fingidor:
só mais uma forma do vazio

forma com mania de catar palavras
que preencham seu vazio

pro vazio tomar forma
no olho do leitor

20/09/2015

já é

chega um momento sereno
em que tudo descomplica

você dorme
quando tem sono
come
quando tem fome
e abandona as possibilidades futuras
de salvação
mirabolantes, esquivas, tensas...

saúde é saudar o presente
e o arredondamento consciente
dos planos de vir a ser
através do mais sagrado:
o que é

18/09/2015

além

me sento
perante os cinco elementos

enquanto meu facebook lota de gente
que desconheço bem

e meu poema é uma canção
de saudade
não sei de quem

(re)creio dos bandeirantes

acordo com mosquitos levando minhas 8 horas de sono
entrando no nariz
mordendo as mãos
mordendo a boca
entrando pelas frestas que as telas das janelas não fecham

mosquitos
em comum acordo com a população local
e a normalidade

"são as gigogas"
"são os políticos que não cuidam do canal e aumentam impostos"
"é assim mesmo"
"é a poluição"

assim vamos pelo mundo
fazendo discursos não presidenciais nos dutos
comprando produtos, criando produtos, querendo produtos
cuspindo mosquitos
e vendo o problema nos outros

26/08/2015

florbela

os poetas sabem que a vida não basta
resta semear palavras dentre dores
e colher futuros melhores

20/08/2015

"The Necessary Death of Charlie Countryman"

é preciso a música
e o aumento da temperatura corpórea

ela tem olhos de água
e cabelos de fogo
no filme de amor que todos somos

querer além dos molares quebrados
dos maxilares trincados
do bolo de sangue e dor babados no próprio rosto

querer primal rasgando a garganta ancestral amordaçada
independente desses fatores banais
abissais revelações maiores que qualquer paz

não esquecer nenhuma palavra
não escrever nada que não seja um murro
um urro de dor pra derrubar o muro

me perder em você
a morte dos pais
a beleza da música

18/08/2015

avidya

o olho cria o objeto
separado do observador:
eis a cegueira
(fonte de toda dor)

11/08/2015

uno

pelo silêncio da água
mergulho suave
no absoluto

03/08/2015

tempo e espaço
são maus hábitos

agradeço às estrelas
que me construíram e destruíram
tantas vezes

e mais ainda à chance
de nem isso

25/07/2015

a walt whitman

o corpo aquece na presença do poema
a montanha se deixa tocar pela nuvem

inexplicáveis e naturais
como o mago e o poeta
a pensar além de sua mente
a viver além de sua morte

23/07/2015

sem querer

olho o mundo
vejo
eu profundo
deixo

15/07/2015

shortinho vermelho

num entardecer com quentes murmúrios
ouço os próprios hormônios gritando fome
enquanto lá fora guardas espancam famintos
e enterram os que se amontoam nas carroças
com sapatos brilhantes
e muitas telas

face aos que sorriem

facas aos fotografados

mostro meus dentes a quem amo, incisivo

azul facebook

oculto minha biológica fome
por vezes a acarinho
minha raiva meu cachorro meu vizinho
um mundo que insiste em entrar pela janela
que provisoriamente fecho pra escapar de mim
de meus hábitos 

todos os caminhos errados
mas a lua certa sobre o mar correto

então me agarro às palavras
como a criança ao voo
das gaivotas de papel

pressa de perfeição

a garra de um uivo
do mesmo lado de uma confissão
que sinto sem entender conforme cai
o brilho das letras - orvalho de paz

porque a luta é injusta
mas o velho verso é leve
como o fogo

14/07/2015

recomeço

enquanto o mundo fora de foco
o óbvio dentre os tiros da rotina
o mais logicamente saudável
perante uma atenção que dança tão rápido
e se perde sem espaço em todo passo provisório:

parar e silenciar

13/07/2015

eu menino

meu pai me levou ao maracanã
pra ver o futebol o fluminense o atacante
mas logo virei as costas pro jogo
procurando algo mais interessante

(feli)cidade

quantos litros
de sangue e raiva
me beberam mosquitos
enquanto eu adiava?

09/07/2015

Padmasambava em 3 linhas

a porta de saída
a porta de entrada:
o cansaço do mundo

08/07/2015

nelumbo nucifera

a raiz na ilusão de estabilidade
atravessar verticalmente verde um mar sofrido
para nascer aberto, além da lenda da própria mente

03/07/2015

m_ar

deixo a água
invadir meus sonhos
meus olhos
minhas intenções

todas as partes quase antigas
duras como rocha
que deixavam
todos à parte
enquanto meu fogo criava
poemas amigos sobre o mar

02/07/2015

CD O que não tem fim - Vital Lima

Sempre achei que um poema só ganha vida quando vira música. É algo como um grau maior de alcance, de universalidade, de completude. Sou apaixonado por música de qualidade. 

Imaginem minha felicidade ao ouvir pela primeira vez o maravilhoso CD "O que não tem fim", de Vital Lima (por enquanto, à venda aquiaqui no iTunes), com meu poema "crisálida de carne" transformado na segunda faixa (com um violoncelo lindo, de Luciano Correa), abrindo o espaço sideral desse encontro de artes para um infinito muito maior do que a soma das partes. O trabalho de Vital é imenso, intenso e múltiplo. Diferentes tipos de melodias e de letras nos remetem a Ivan Lins, Oswaldo Montenegro, Zeca Baleiro, mas - ao mesmo tempo - totalmente originais... Essa músicas também nos lembram nomes dentro de nossas próprias histórias, que muitas vezes fingimos esquecer, mas continuam lá, no canto mais escuro do céu, apenas esperando a sequência de notas certas pra brilhar mais forte. 

Os muitos poemas musicados nas 14 faixas do CD nos fazem questionar como alguém processa tão bem letras quietas no papel em sons de beleza universalmente compreensível.

Apesar de várias parcerias com músicos que tive a sorte de conseguir, é a primeira vez que leio todo bobo os versos do meu poema no meio das letras das músicas de um CD profissional (sensacional). Vinícius que me perdoe.

vital lima - o que não tem fim

24/06/2015

23/06/2015

se minto

sou astronauta neste apartamento
câmero lento
peneirando estrelas
com cimento

22/06/2015

onde?

meu fígado não sabe que sou fabio rocha

e segue digerindo meu almoço

vou pro mercado sem saber também

pago com cartão, onde tá escrito fabio rocha

o plástico do cartão não sabe nem ler esse nome estampado nele mesmo

a identidade tenta ir além com uma foto, mas já mudei tanto de cara...


meu sangue não sabe de fabio rocha

a letra F do meu nome é igual a todas as letras F

se existe um fabio rocha, está em que parte?

nas unhas que adio cortar?

no peito onde pulsa um tecido que não sabe nada de fabio rocha?

nos neurônios que transmitem eletricidade sem pensar em fabio rocha?


no primário me chamavam de fabio josé

agora, uns amigos chamam de fabão

e eu ainda olho quando chamam

mesmo eu não sendo a cabeça que gira

nem o pescoço que faz girar a cabeça


respondo um e-mail mentiroso assinando fabio rocha

e percebo que também estou mentindo

17/06/2015

à deriva

o fim da dor: prazer
o fim do prazer: dor

ou vamos à mercê do tempo
ou vemos o mar maior que as ondas

10/06/2015

persianas de aço

toda noite
na folha branca
dança
a possibilidade
da obra-prima

a lua observa serena
fora do espaço da janela
cada rima
cada fracasso

07/06/2015

sentir que ela vai seguir

todos os lobos
em minha volta

lobos meus

acalmo
pouco a pouco

menos louco
o olho do tempo
(menos meu)
desespeta o coração

06/06/2015

progressividade

enquanto em parte
a mente tende
a esperar godot
aproveito o silêncio
da outra metade

05/06/2015

hábito

você sabe a solução

mas tem horas em que
prefere a confissão
só pelo prazer
da palavra

hoje li um poema bom
então me irmanei
daquele ritmo de ver o mundo
no meio do olho da ilusão

os homens bebem cerveja
e deitam-se de barriga pra cima
com gatos mordendo seus dedos

os homens tentam ser médicos
engenheiros, advogados
e seguir bebendo cerveja e querendo
ser alguma coisa
ter alguma coisa

(nós
homens)

e há uma beleza nisso

você sabe que vai dar na mesma
que vai dar merda
mas há uma beleza nisso

é como o som de sapato alto
vindo em sua direção

ou a cor do batom do primeiro encontro

o tesão antes do beijo

a paz depois do orgasmo

03/06/2015

e agora, e agora...

exatamente agora
o espaço além do tempo
te olha distraído

refúgio sem relógio

na véspera do aniversário
um sonho me engasga as rimas:
ela chorando feito bebê
com saudade do pai
e o silêncio de minhas mãos
incapazes de acalanto

então lembro
(e compreendo)
o desencanto do fotógrafo
que tentou em vão não ver o mundo
do fundo das camas de casal

como quem desiste
sentindo a cicatriz
sobre a cicatriz
sobre a cicatriz

(uma escondendo a outra
nas tantas camadas do tempo
sem cura)

sonho
dentro de sonho
dentro de sonho

como quem desiste
no fundo da pele
(na superfície da maca)
de buscar refúgio
em novas facas

02/06/2015

parte

a vida arde
a vida arte
como um abraço
da letra c
sem laço

30/05/2015

bastando

os heróis contam
suas histórias de vitórias

ouço olhando as mãos

os pais dos heróis
também tinham aquele dom

calado através
vou pelo outro lado

sabendo menos e menos
cortar as unhas dos pés

29/05/2015

ruas escuras

toda sexta-feira acende
os olhos de ver milagres
mas as pessoas só olham
as telas dos celulares

28/05/2015

contra

trabalho contra a norma

o horário não é rígido
mas o tempo não é flácido

acerto
a cada erro
mais perto

o olho
o objeto

o olho
o objeto

lá fora
aqui dentro
alguns ateus
seguem dizendo
"vai com deus"

23/05/2015

vajra presente

reescrevo
a diamante
passado e futuro
constantemente

condomínio barra sul

o artista canta folk
no baile
funk
(fizeram um filme sobre)

depois a manhã
mesmo assim
iniciou

um cachorro chato
latindo agudo

o morro imóvel
com penugens verdes
sem nenhum verbo aparente

toldos nas janelas
pro sol não entrar

pessoas nos sofás
sem saber se dormem
ou se acordam

um pouco de frio
nenhum rio

e a constância do motor
do mata-mosquitos
variando com a distância
espantando paz e pássaros

22/05/2015

sol

aplaudem as chagas

sem armas

um homem semeia palavras

21/05/2015

espaço

a vida entorta
a linha branca
do rastro
do barco

porém
além do mar
além das ondas
além do rastro do pássaro
além da vida e da morte

o céu
e-n-o-r-m-e

20/05/2015

vajra

a lua dentro do quarto
velejando outros tempos

o frio acalma a pele
na vela
a brisa leve

toda ela
bela
aqui e além

horizontes nadam
reféns

tudo o que o olho toca
cheio de olho
vazio de independência

venta fogo
sem guerra

bandeira branca:
toda gota
se vendo do mar

18/05/2015

stalker

a palavra distorcida contamina
toda vida radioativa toca outras
bem ali cortam a grama e ninguém filma
e o silêncio amadurece flores tortas

17/05/2015

cinema lateral

em vãos construímos
futuras ruínas
sob as águas de tartovski

16/05/2015

cinema

não posso não ser o herói.
resta-me alargar a janela pro silêncio
pra mais gente sair de si

15/05/2015

atento e relaxado

às vezes ouço o que vejo:
distorção de dois sentidos misturados
revelando a enormidade do sonho

14/05/2015

poema pras mulheres que iam me amar pra sempre

essas mal traçadas linhas
vão pras mulheres
que me amam pra sempre toda hora
que me amam pra sempre todo dia
que me amam pra sempre dia sim dia não
que me amam pra sempre semanalmente
que me amam pra sempre uma vez por mês
que me amam pra sempre nos solstícios e equinócios
que me amam pra sempre uma vez ao ano
que me amam pra sempre nos anos bissextos
mas principalmente
pras mulheres que me amam pra sempre
sem me amar mais

13/05/2015

câmbio

teias dos hábitos
reforçam o automático
dos atos

enquanto
automóveis
fora

quanto
barulho
dentro

12/05/2015

agride

pássaros voam
sobre as nossas
grades

09/05/2015

resumo

de tanto perseguir auroras boreais
e horizontes paralelos
o homem sem fome
(tal qual o ufólogo)
começa a achar
triste, entediante e frio
ser feliz parado sem dizer nada

06/05/2015

tarde

uma parte de mim
biologicamente acredita
que eu deveria ter ido

olho calado o quanto arde
não olhar mais amplo

deixo o hábito romântico
na inutilidade da arte

04/05/2015

rouco

passo a pouco
desenvolvo suores noturnos
no sol de meio-dia

quase 40

estou farto de falar de amor com boca mole
as palavras velhas me soando a mim mesmo falsas

cadafalsas
como borboletas sem cor
e rinite em dias quentes

meus olhos buscadores
aponto
contra o hábito de mim mesmo
a olhar através dos mesmos óculos
buscando

macarrão com letrinhas na sopa de feijão do universo

aprendi com mia couto
que irmanar é maior que entender

assim os versos saem
depois de alguma espera

como os fogos em copacabana

a praça escura de meus erros
brevemente iluminada

milagres
letras

02/05/2015

a erva do rato

o silêncio das casas antigas
das casas de fazendas e cafezais
luz de vela
medo de sombra

a casa de meu bisavô
com hora da janta
portas de madeira
e quarto de ferramentas:
tudo em seu lugar
quando trabalhar era artesanato

as casas de subúrbio
com muros baixos e cachorros magros
latindo no tempo

o tamanho imenso
de uma hora só casa
com dois dentro
e tanta gente
fora

las personas locas de amor

as pessoas loucas de amor
viram padres

as pessoas loucas de amor
viajam sem rumo

as pessoas loucas de amor
saltam de prédios

as pessoas loucas de amor
fazem poemas

as pessoas loucas de amor
se casam

as pessoas loucas de amor
se separam

as pessoas loucas de amor
se criam arduamente
constantemente
como sofridas
pessoas loucas
de amor

01/05/2015

depois de outro filme de amor

enquanto um sol oblíquo
entre prédios e nuvens
flores violetas no meio do outono
no meio da avenida das américas
resistiam ao passar do tango

no plexo a violência da espera
a violácea do hematoma previsto
sem porém conseguir ainda
prevenir a via láctea

28/04/2015

demissão-transmigração

lentamente verifico-me a festa
com olhos de monge

longe de sair da testa
o formulário tão claro

Profissão:
poeta

24/04/2015

água e sol

o profundo permanece
abaixo das ondas que passam

da janela do silêncio
borboletas nadam
atrasadas pra aula

algo me prende
entre o raso e o fundo:
uma rede
um poema
o mundo

Imagem: foto de Fabio Rocha

23/04/2015

silencio

tendo andado atrás
por estradas tortas
para encontrar
portas trancadas
por tempo demais

sento-me para apreciar
a luz da possibilidade da verdade
mesmo que mínima
mesmo que quase
mesmo que gélida
mesmo que triste

uma beleza múltipla

22/04/2015

retas e curvas

retas e curvas
Imagem: foto de Fabio Rocha

20/04/2015

da primeira vez que vi teresa

era um personagem

com o peito em frangalhos
desenhando outro rosto feminino
pra sobreviver ao vazio
pra respirar

não é assim que nos inventamos?

ela segue linda
lá e cá
mas todas vez que tento reificar
meu eu desenhista ou ela como desenho
a vida
dentro do vazio
me brilha pra dançar
um canto muito mais
amplo

dinheiro, mulheres, iates

larguei o emprego público
quando o salário dobrou
só pra te mostrar
que é possível não se dobrar

atenciosa, mente

12/04/2015

abrindo a porta pra fora da doença (brazil, 1985)

tenho tido vislumbres
de uma alegria incomensurável
e branca

um rosto de mulher
na linha de luz
do antes ao depois

asas
e
letras

uma fenda de oito horas de ar
todo dia
pra minha solidão criar

e uma vontade de sonho
sendo a alegria dos olhos
dos primeiros estrangeiros
chegando em nova iorque

ouvindo os prédios
e a imensidão
pela primeira vez

07/04/2015

incondicional

a arte
de oferecer o silêncio
arde feridas
de milênios

não adianta boa intenção
se a mão que acarinha
se vê separada
da que recebe

sozinha

06/04/2015

penso logo durmo

reduzo
ainda mais
o uso do tempo
em tempo de desuso

28/03/2015

shamata

sentir a melodia
da véspera da viagem
sem ter que viajar

24/03/2015

quarto poema para camila

um silêncio tão maior
que a soma dos ruídos

todos indo
pra lá e pra cá
passando com pressa

enquanto
a criança dança
bailarina
sozinha e sorrindo

das costas brotando
verde de folha
duas asas sem peso

19/03/2015

do dragonismo (salto)

(para Nilton Bonder)

toda tradição pede traição

a pele assim transcende hábitos
e brota a transgressora pluma

nosso olhar muda

movimento inexorável para cima

não mais dormir que a vida passa
mas ir além:
ávido mártir
espelho de pássaro

17/03/2015

mercado de trabalho

manifestação de desapoio
ao grande masturbador desconhecido
que a cada vez que goza
cria milhões de empregos sem sentido

11/03/2015

formal - foi mal

venho manco
por meio destra
tropeçar

quantos bancos em praças
desocupados
enquanto as gentes
se impregnam de cinza
nos escritórios?

vida pesada
correndo correndo
pro destino sem pegada

- não é assim que destruímos o mundo?

03/03/2015

guia de benefícios

o escritório te prende

ar condicionado

espátulas escalpelando sonhos

corpo a vinagrete

psicólogos de plantão

a mesa branca antiflui

tudo bem? tudo ruim?

a roda vai girar

28/02/2015

disrupção

tento esquecer o que quero ser
dentro da boca de quem sou

aceito
de olivas

olho a carne nova e salivo
e vejo deus e a nona de beethoven
tocarem em meu plexo sorriso

brilha azul
a palavra salvação
enquanto tento agarrar a bóia

dou um passo atrás
e danço com três pés
observo a pele, a fome, a praia
e a vontade crescente

absorvo a liberdade
de apenas ir no ritmo
com ou sem poder
com ou sem paz

a maior das sabedorias:
- tanto faz

24/02/2015

contraste

a palavra vejo
preto percevejo
na branca folha do azulejo

22/02/2015

alergia

sem mais adoçar o mate
antes de tropeçar
na leveza enferrujada
da palavra bueiro
destampo a precisão emprestada
de versos joviais
enquanto suo

enquanto sumo

16/02/2015

palmo a palmo

desocupado demais
pra procurar culpados
vou parado
sobre o silêncio dos dias
e a paz das noites vazias

nada a comprar
nada a comparar
nada a conquistar

10/02/2015

forma e vazio

calar
enquanto o mundo grita

preferir manter a paz dos píncaros
da neve nas montanhas
do tibete
de nietzsche

sem precisar estar lá

alegrar e alegrar-se
neste espaço e neste tempo
perto e presente
aberto

deixar o tempo escorrer no agora
enquanto o mundo apressa futuros
fugindo do passado
que - assim - se repete
e repete
e repete...

quebrar ciclos infinitos

olhar um pouco de fora
viagens, empregos, relações
todos as formas de brinquedos da mente
sabendo seu vazio

07/02/2015

vendo Birdman sem cortes

e os tambores constantes

como é grande a luta
dos que buscam fama, prestígio, poder

um filme longo

logo agora que o sábio
para de olhar as horas
pra perceber as engrenagens
dentro do relógio

e por detrás delas
um invisível maior que o tempo
indivisível de tudo
indizível em versos
concatena silêncios sem ilusão
com as negras mãos dos universos

e os tambores constantes

05/02/2015

lung de Bodichita

perdemos os nomes entre os trens
e as plataformas de lançamento
de felicidades futuras

duras águas frias cantarão
infinitos passados sem cura
mas o certo
o mais certo
é o silêncio do plexo

03/02/2015

rachadura

corro do córrego

o peito represa lágrimas, alegrias, futuros, cores, passados
o peito pesa e represa um mar
que afobado sonho:

rachadura

(rio alto)

todos os elementos da cura em minhas mãos
contra tanto não
escurecendo asfaltos

01/02/2015

mas tenho o whatsapp do porteiro

não conheço nenhum vizinho
mas ajudei um mago da noruega
a passar de fase no joguinho online
e tenho o whatsapp do porteiro

a vida me tira as peças
me tira as pernas
só tira
mas tenho o whatsapp do porteiro

me atiro no sofá da sala
ouvindo os gritos de cássia
e a tempestade lá fora
sem saber se alguém ouve
se alguém houve
se alguém move
meu coração

mas tenho o whatsapp do porteiro

29/01/2015

vencendo

o silêncio
vem sendo
a palavra

falamos o dia inteiro
com e sem nexo
mas o mais profundo
é o abraço antes do sono
depois do sexo

o forte
de todo poeta:
a sua morte

27/01/2015

o grande tropeço é a pressa

tenho trocado a poesia pelo silêncio
e o plano pela curva

tenho parado
no meio do movimento
sem ter nem a mim

25/01/2015

19/01/2015

because the night

eu me calei
até as mãos coçarem

depois calei mais apertado
até o céu desistir
e a noite de novo vir
do mesmo ovo estrelado

não foi bom
não foi mau
foi a sombra de um grito musical
que saiu quando ouvi um rock bom

dançar porém no pasto

escrevo adiantando o passo
do espaço onde não estou

eu todo cadarço
na lama

e o falso refúgio que não vem
e quando vem, não basta
e quando basta, passa

18/01/2015

coma ovo - não coma ovo

múltiplos mundos e verdades:
um pra cada observador

todos os cientistas concordam:
a certeza de hoje é o erro anterior

nós, os 7 bilhões de observadores deprimidos
não acreditamos muito em nada
e seguimos nascendo, competindo e morrendo
sem achar sentido
olhando sexo no celular
ou mortes na TV

a depressão pode salvar o mundo
(e a vida)
dessa humanidade distraída

15/01/2015

yellow - coldplay

esvaziar a cozinha das comidas estragadas
purificar com a chama do fogão
e cabelos compridos no chão
vou de mãos dadas com o universo
pela casa cheia de nexo
encarando a música de amor padrão
jogando fora o lixo
pra poder nascer a star
no crucifixo do plexo

13/01/2015

água agora da Nestlé

estamira na tela
a pausa em estampido

altamira que tentamos esquecer
num mundo que oferece
cada vez mais produtos
e distrações

(escrevo com a televisão ligada
e pessoas caçando fantasmas com água
em manicômios abandonados)

sinto saudades de tupi
e de olhar a lua
e de olhar a ti

soldados morrem no longe
crianças com fome no longe
altamira no longe sempre
enquanto valentes
seguimos de oito às cinco
atrás dos salários próximos
guardados por policiais
fardados
atirando balas de borracha e gás
nos vândalos que fogem dos currais

10/01/2015

mar-in

as pessoas no carro, ônibus e trem
indo ou vindo atrás do pão
as pessoas no avião, cavalo e navio
com a boca toda não
as pessoas assim
não chegam

voo pelas palavras
numa nau só sim
sem pedir a mão
sem pedir perdão
aprendendo a não pedir

vou singrando um mar negro
pelas palavras
pelo sagrado
nesse apartamento vazio
iluminado apenas
pelos olhos dos que olham além de si

04/01/2015

o renascimento do parto - um poema

não sabemos mais nascer:
cesariana

não sabemos mais morrer:
UTI

e entre estes dois verbos brancos
fazemos de tudo
pra nos distrair

03/01/2015

meia-noite em copacabana

o fogo de artifício
- a arte -
tem o ofício
de acender a pólvora
da revolução
que está pronta desde sempre
no centro de sua imensidão

mas você adia
e se espreme
todo dia
com cara de limão
saltando - com cuidado - o vão
entre o trem e a estação
para chegar no horário
e receber
salário

reveillación

olho de fora os mesmos fogos
de artifício
sem me sufocar na multidão

pra mim é uma data qualquer
apenas com mais chance
de crime, acidente, loucura e suicídio

o homem celebra não sei bem o quê
sorri pra foto
e posta no face
fazendo novos planos autocentrados

depois toma comprimido pra dormir
pra não engordar
pra acordar
pra não deprimir
pra cagar
e sai pra trabalhar

(e ajudar a destruir o planeta)

01/01/2015

espalho espelhos sem me fingir espantalho

assim me recupero da vida
desde sempre
a vontade de compartilhar o que não sai na foto
curtir o poema curto
circuito imprevisível

Sorrir nas curvaS