30/09/2014

poema enquanto não posso ler poemas

voam sementes no vento

sobre um tempo livre que invento
preso

grades pesadas
pousadas em pássaros

tudo passa.
tudo, pássara...

até mesmo essas folhas
sãs

tão belas curvas
tão belas penas
apenas poemas cantados ao ouvido
no infinito abraço
de um instante

depois tudo distante

a morte me deixa tonto
(o silêncio também, o barulho também)

há morte
em amar-te

29/09/2014

confissão

na minha língua violenta
ela inchava

em minha boca a chave
de sua convulsão
ela cavalgava

foi uma noite inteira
sem ouvir um não:

ela
toda
minha

seu gosto
me devorava
o rosto

seu gemido
proibido
era tudo
o que eu escutava

25/09/2014

do esforço

o futuro tão perto...

faltando tão pouco...

puxo o prazer do futuro
pelo furo da pedra

pesada, não move

penso e puxo mais

tenso, puxo mais

puxo mais

puxo, mas
puxo sem olhar para trás!

24/09/2014

23/09/2014

conjugação

estico a mão
em direção
ao hábito

(respiração completa)

recolho a mão
preparo o não
e sigo sem meta

20/09/2014

recorte cultural

tive
que botar um detetive
atrás do meu desejo

querem que eu ame assim
querem que eu trabalhe como você
querem que eu compre aquilo
querem determinar até como devo foder

porra, há quanto tempo não escrevo um palavrão?

vi na TV a entrevista do cara que esquartejou o ascensorista
e quase me senti otimista

depois vim no carro ouvindo MPB
(foda-se você)

ouça bem:
vim no carro ouvindo MPB FM!
(foda-se você!)

- a memória é uma ilha de edição

ouço a voz de waly salomão
no recorte cultural
repetindo ad infinitum
agora, então

- a memória é uma ilha de edição!

19/09/2014

reinfância

o mundo era muito interessante
algo a ser desvendado
descoberto

a enciclopédia perto do dicionário
o medo de monstros no armário
o sonho repetido: voar

devorar os bichos do chocolate surpresa
e da coleção "o mundo da criança"
que meus avós e pais me liam
(não havia computador)

lembro de usar amêndoas como giz
e folhas de palmeiras como asas

hoje
toda a minha imaginação
vai pras palavras

17/09/2014

já nela

dentro da bolha
de minha pele
todas as águas
são negras

um olho gordo
olhando fora
olhando a hora
de ser feliz

15/09/2014

(des)fase

a urgência atropela a paz:
faz tempo
que o tempo me desfaz

14/09/2014

flores e abelhas na amendoeira

no meio de tanta imperfeição
o céu abriu azul

pensando bem
todos sobrevivemos a agosto

tudo bem a primavera meio fria:
faz sol

13/09/2014

Minha fomília

os pais queriam os filhos
iguais aos filhos que queriam

os filhos quanto a isso são iguais
quanto aos pais

(Meus filhos, Meus pais)

conforme não ideais
vivem todos em estado de não ser

sob a constante e silenciosa acusação
ouvem televisão e falam da inflação

(como vingança, ainda mais não são)

- passa o macarrão?

12/09/2014

na Minha cama

numa tarde de redenção e de lume
levei a mão de uma ao seio da outra
e senti no ouvido o perfume

então as duas se beijaram
e foi o meu melhor ciúme

11/09/2014

(anti) the coca-cola company

- temos que voltar a beber refrigerante: uma garrafa de matte leão está 6 reais no mercadinho barra sul.
- é mais economizante comprar a erva.
- mas aí não tem acidulante, edulcorante, corante, conservante e aquela garrafa bonitante que a natureza não digere antes de uns séculos.

como viver mais positivamente ante isso?

09/09/2014

antes do demissional

os escravos mostravam dentes
nós fazemos exame médico periódico

dentes, sangue, urina, merda
olhos, pulmões, coração

evolução é isso:
ter que mostrar mais

08/09/2014

jeans do céu

a página em branco se abre
vasta como o mar oceânico
visto de portugal

o blog abre o dia
branco de espanto e medo
ante tantas possibilidades

o céu balança as árvores
com mãos de vento
e suavidade

o teclado em valsa
deixa
de ser duro

danço dedos futuros
(cada vez mais presentes)
no furos azuis de sua calça

06/09/2014

o sucesso da insensatez juvenil

fome de presença e nexo
fome de amor e status
fome de segurança e sexo

(fome que saciada ou não
só traz indigestão)

mas a dor que sente
é o primeiro passo
porque todo chão abaixo
tem semente

como a montanha árida
lentamente
gradualmente
naturalmente
cria uma fonte de água

05/09/2014

imperfeito

profecio a esperança que não mato
(que nem mosquito):
ela virá de longe
e ficará de fato

letra maiúscula

a sombra da sobra dos dias
comemos com pressa
fast flood
sem notar as notas de rodapé

anotamos mentalmente o tempo todo
e esquecemos
e esquecemos que também seremos esquecidos:
temos prazo de validade

não tem remédio

o que fica de tanto trocado
é apenas a alegria dada

assim
do nada
como ponto final.

03/09/2014

o vento nas árvores

eu de ar:
nenhum demônio subterrâneo
nada a perder ou ganhar

02/09/2014

apólice de inseguro

numa casa deixo meias marrons
na outra, pretas
(na casa com meias pretas, o sapato é marrom)

lavo a louça
compro queijo fatiado e deixo ao lado
do queijo inteiro
(geladeira no mínimo)

o mate faz com que
eu não me mate

lembro que tenho que comprar mais cuecas
(eu sempre tenho que comprar mais cuecas)

numa casa a lava-roupas derruba a luz e queima algumas peças
na outra, mosquitos infinitos derrubam o sonho de um sono tranquilo

numa casa, a solidão total
na outra, o peito ainda dói

as casas são perto
e longes de mim
(ainda bem que não vendi o carro)

demoro
mas não sei onde não moro
(desmorono)

01/09/2014

(ja)nela

queria gritar mas não há
ela pra ouvir

os cacos do peito
rimam com gatos
nos becos

ela pássaros com asas que cortam

passaram tanto
que a inocência é irrecuperável

(meu dragão com medo de foto)

dorme?
como dorme?
camas pequenas enormes...

ela não é pronome pessoal:
é sonho e pesadelo, (a)temporal

por falta de água
sangro nada

ela nem vê
ela nem lê

ela horizonte
bela, passado doce, futura amante:
sempre volta pro distante

ela não termina:
é a ausência da ave maria
quando a terrível noite se retina
do outro lado da cortina

ela é o silêncio que me sua ser
trancado sozinho
perguntando por que