pescávamos tranquilos
com a isca do canto
e um cego soltava pipa na noite
mas
o peixe estranho
e as nuvens escondendo a lua
prenunciavam
a onda enorme
a onda
dos sonhos infinitos
o som da onda
o fim
*
descemos
silêncio
serenos
sereia
ela me dá a mão
e voamos na água
sobre um chão de céu:
estrelas do mar
arraias beijam flores
polvos gigantes em paz
tudo é grandioso
novo e esperado
até mesmo o sangue espalhado
da presa que caça o caçador
sangue necessário
rezado lado a lado
desço mais
atras do fascínio
salto em meu medo
tudo lento e profundo
no abismo do outro mundo
(mundo mesmo)
no escuro
ela me fecha os olhos
e em algum lugar
no mundo de cima
alguém olha o mar e a rima
sem se molhar
me salvo
vou por cidades submersas mortas
portas para estátuas sem forma
símbolos antigos do que não virá
pela caverna cruzamos
pela luz nascemos
batalhas perdidas no tempo
pelo beijo morremos
outros olhos
outros tempos
ela sobre as águas
chorando os retratos
que vivemos
mas sua mão agora
se abre em estrela
(a estrela vermelha que dorme em minha carne)
é tarde demais
nado sozinho
por caminhos errados
até
enfim
me tornar
o navio de meu sonho
desnaufragado
ser capaz de navegar o novo mundo
sem se perder da ilha
do nosso passado
uma casa no meio do mar
no meio do tempo
onde sempre haverá
você
um violoncelo
e uma luz acesa
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